DÚVIDAS

Valores consecutivo e final de «de modo que»
Há alguns anos, quando ainda eu estava cursando o ensino médio, comecei a estudar gramática por um livro de português (da década de 1960) intitulado Português ao Alcance de Todos, de Nelson Custódio de Oliveira, no qual havia a inclusão da locução «de modo que» e suas equivalentes («de maneira que» ,...) no exemplário de conjunções explicativas, sem, aliás, citar nenhum abono. Daí, como tenho uma curiosidade exasperada, resolvi pesquisar a fundo esse caso e encontrar abonações de usos por algum autor consagrado na literatura ou em algum manual de gramática, então encontrei três fontes a mencionarem tal uso: Em Gramática Expositiva – Curso Superior, de Eduardo Carlos Pereira, de 1941, no qual há o seguinte exemplo do uso de «de modo que» como conjunção causal; ex.: «Ele guardou, de modo que não lhe viesse a faltar.» Em Gramática Normativa da Língua Portuguesa – Curso Superior, de Francisco da Silveira Bueno, de 1973, no qual o autor arrola no exemplário das causais, «de modo que», «de forma que», «de maneira que», abonando um exemplo de causal com «de maneira que» apenas: «Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho destemperada...»; «De maneira que por todas as vias lho deveis ...» (Ulíssipo,11). E, por fim, em Guia Prático de Análise Sintática de Tassilo Orpheu Spalding, no qual este autor declara o seguinte: «"De modo que" e "de maneira que" também funcionam como conjunções causais: "Não li o livro, de modo que não lhe posso dar informações precisas".» O pior de toda essa pesquisa que fiz é que, de fato, nenhuma dessas fontes mencionadas me deu um exemplo em que conseguisse enxergar a ideia de causa e consequência típicas presentes em um período subordinado em que há uma oração causal. A meu ver (e aliás já vi duas construções desse jeito) o uso de «de modo que» enquanto conjunção causal seria como o caso da conjunção como quando estabelece ideia de causa, ou seja, no início do período, assim: «DE modo que foi na floresta que o lobisomem entrou, é lá onde vou procurá-lo.» Assim, meus prezados, por gentileza, vocês conhecem alguma outra fonte que relate tal fato (corpus do português, gramática, dicionário, estudo publicado por linguista...) que possa me fornecer para me convencer dessa possibilidade (ou impossibilidade)? Obrigado.
«O mesmo» em português europeu
São várias as páginas do Brasil que apontam a utilização pronominal de «o mesmo» como sendo errada, conforme acontece em frases do género: «O rapaz faltou à escola, porque o mesmo está doente.» ou em posição final na frase, substituindo algum sintagma antecedente. Ora, pelas diversas respostas disponíveis na vossa página, não há menção clara de que este tipo de construção seja errada. Gostaria de perceber o que está errado: a explicação do Brasil ou aquela fornecida em Portugal? Grata pela vossa ajuda.
Concordância verbal: «Ou tu ou eu pagamos...»
Eu gostaria de saber com qual pessoa gramatical o verbo que segue os sujeitos ligados pela conjunção ou deve concordar. Exemplo:«Ou tu ou eu pago/pagas a conta» No exemplo, a ação verbal só pode ser exercida por uma das pessoas. Napoleão Mendes de Almeida diz que, quando os sujeitos são de números diferentes, o verbo vai para o plural; só que, nos exemplos que ele deu para esta regra, ambos os sujeitos são de terceira pessoa. Obrigado antecipadamente.
Processos de referenciação anafórica
Gostaria de esclarecer a seguinte dúvida: no segmento abaixo transcrito, pede-se para identificar e explicar os processos de referenciação anafórica em destaque. Como proceder? «A epopeia Os Lusíadas é uma obra emblemática, constituída por dez cantos, com a qual Camões, seu autor, homenageia o povo português. O poeta fá-lo através da Viagem do Gama à Índia e da História de Portugal, não esquecendo os deuses romanos, salientando-se Júpiter, Vénus e Baco.» Muito obrigada pela atenção.
«Cancro do....» vs. «cancro de...» II
Apesar das abonações citadas pela consultora Sara Mourato, em 27/2/2019, em que se omite o artigo definido, creio que ele deve ser obrigatório quando se nomeiam órgãos do corpo humano. Dizemos, por exemplo: «o pâncreas produz insulina» (e não «pâncreas produz insulina»); «o coração batia forte» (e não «coração batia forte»); «o útero compõe o aparelho reprodutor feminino» (e não «útero compõe o aparelho reprodutor feminino»). Portanto também: «moléstia do pulmão», «ele sofre do coração», «tumor da próstata», «inflamação dos rins», sempre com o artigo. Cordialmente.
Reforma, aposentação, jubilação
Outrora, designava-se de aposentação a situação de um funcionário que descontava para a Caixa Geral de Aposentações e que por ter completado a idade regularmente fixada, por doença ou por incapacidade física era dispensado do serviço (os designados funcionários públicos) e por reforma a situação dos trabalhadores que descontavam para a Segurança Social e que pelas razões aduzidas a propósito da aposentação eram dispensados do serviço (os designados trabalhadores do sector privado). O português sendo uma língua viva vai-se modificando, e, hoje, aposentação e reforma tornaram-se praticamente sinónimos o que levou a que muita gente desconheça o que as distinguia. Há, porém, uma outra situação que é a jubilação, a que só duas classes profissionais podem aceder: os professores universitários e os magistrados. Não consegui, até hoje, apesar das buscas efectuadas, perceber quais as especificidades que a caracterizam. Sei que há diferenças materiais, pois há diversos acórdãos judiciais a pronunciarem-se sobre o assunto, em resultado de acções interpostas por quem se sentiu lesado, materialmente. Haverá, espero, algum dicionário que precise em que consiste, e o que a diferencia da aposentação e da reforma. Não sei se no domínio da etimologia o Ciberdúvidas centra toda a sua busca, exclusivamente, na consulta dos dicionários ou se, quando necessário, «desce ao terreno» e vai, no caso, junto dos professores universitários e dos magistrados perscrutá-los.
ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa