Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Grace Machado Enfermeira Bragança, Portugal 607

Gostaria que me esclarecessem uma dúvida se possível.

A frase «Após se ter despedido da família, o médico dirigiu-se ao hospital.» estará correta?

Ou seria correto empregar o pronome desta forma:

«Após ter-se despedido da família, o médico dirigiu-se ao hospital.»

Este tema é para mim muito difícil de assimilar, tendo em conta os inúmeros atratores de pronomes existentes cujo listado completo não encontro nas gramáticas.

Agradeço a vossa ajuda!

Rita Cabral Comunicação Porto, Portugal 575

«Saiba como proteger-se e proteger a sua casa», ou «Saiba como se proteger e à sua casa»?

Diria que a correta é a primeira, mas não estou certa.

Poderia ainda explicar a razão?

Obrigada

Paulo Manuel Sendim Aires Pereira Engenheiro Costa Rica, Brasil 653

É possível ( ou obrigatório) fazer a haplologia sintática com o duplo se conjuncional da mesma maneira que se faz com o que?

Quais das seguintes frases são gramaticais?

a) «Eu não sei se compraria um carro se ganhasse à lotaria.»

b) «Eu não sei se se ganhasse a lotaria, compraria um carro.»

c) «Eu não sei se ganhasse a lotaria, compraria um carro.»

Alexandre Lopes Estagiário Ovar, Portugal 841

Estava a assistir à reportagem da TVI sobre um eclipse solar híbrido na região Ásia-Pacífico e quando um espectador começou a comentar apareceu:

«Foi difícil convencê-los ao início, porque disse-lhes que ia durar só um segundo.»

Não devia ser «porque lhes disse»? Será só um erro? O pronome não devia estar atrás do verbo?

Gostaria de saber se essa frase está correta ou não.

Obrigado.

Jacira Silva Jornalista Madrid, Espanha 1K

Gostava de agradecer-vos pelo vosso excelente trabalho. Estou imensamente agradecida.

A minha pergunta é: qual é a posição dos pronomes de complementos com os pronomes isso, isto? «Isso me encanta», «Isso encanta-me», «Isto me ofende imensamente, Maria!»

Desde já agradeço a vossa ajuda. 

Paulo Ribeiro Professor Aveiro, Portugal 2K

Com a locução coordenativa correlativa «tanto...como...» dá-se a próclise ou a ênclise do pronome?

Exemplos:

a) «Tanto ele como ela se mantiveram calados.»

b) «Tanto ele como ela mantiveram-se calados.»

Nesta situação, qual a frase correta?

Obrigado pela vossa colaboração.

Maria Antónia Fraga Professora (aposentada) Açores, Portugal 779

Como devo dizer: «Obrigada sou eu que lhe fico» ou «obrigada sou eu quem lhe fica»? Ou ambas as formas são aceitáveis?

Anabela Magalhães Professora Colares, Portugal 1K

Entre colegas, surgiu uma discussão sobre um recurso expressivo na estância 19 d'Os Lusíadas: anástrofe ou hipérbato?

Já no largo Oceano navegavam,
As inquietas ondas apartando;
Os ventos brandamente respiravam,
Das naus as velas côncavas inchando;
Da branca escuma os mares se mostravam
Cobertos [...]

Nesta estância, podemos afirmar que estamos perante anástrofes em «Das naus as velas côncavas inchando» e «Da branca escuma os mares se mostravam/ Cobertos»?

Considero que o hipérbato consiste numa alteração "violenta" na ordem natural da frase, como "os casos que o Adamastor contou futuros".

Desde já, agradeço o vosso esclarecimento.

Laércio Becker Funcionário público Curitiba, Brasil 837

A ambiguidade da palavra também pode ser explicada sintaticamente?

Partamos da frase: «João foi ao jogo.»

Nela, podemos incluir a palavra “também” com dois sentidos distintos:

1) Também João foi ao jogo = [além de José,] também João foi ao jogo

2) João foi ao jogo, também = João foi [à festa e] ao jogo, também

Sem contar opções mais ambíguas (quanto mais próximo ao verbo, maior a ambiguidade):

3) João também foi ao jogo – mais próxima ao exemplo 1, mas pode gerar ambiguidade

4) João foi também ao jogo – mais próxima ao exemplo 2, mas pode gerar ambiguidade

Todas as gramáticas e dicionários classificam o também como advérbio e adjunto adverbial «de adição» ou «de inclusão». Contudo, é interessante notar que:

a) no exemplo 1, o também adiciona uma informação ao sujeito;

b) no exemplo 2, o também adiciona uma informação ao objeto indireto.

Fenômeno análogo ocorre com o advérbio , embora com diferenças, p.ex.:

1) Só João vai ao jogo = e ninguém mais vai com ele = referente ao sujeito => inequívoco;

2) João só vai ao jogo = (não faz mais nada = referente ao verbo) OU (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto);

3) João vai só ao jogo = (não vai a mais nenhum lugar = referente ao objeto) OU (vai sozinho = adjetivo);

4) João vai ao jogo, só = (só isso acontece) OU (foi sozinho = adjetivo).

No entanto, no exemplo citado, o fenômeno não acontece com outros advérbios, como sempre e nunca:

– Sempre/nunca João vai ao jogo = João sempre/nunca vai ao jogo = João vai ao jogo, sempre/nunca = é o que ele sempre/nunca faz.

A variedade de sentidos aumenta em frase que usa verbo bitransitivo. P.ex., com também:

1) Também João deu um presente a Maria = outra pessoa também deu = referente ao sujeito;

2) João também deu um presente a Maria = João também fez outras coisas, além de dar um presente = referente ao verbo;

3) João deu também um presente a Maria = João também deu outras coisas, como um abraço = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente também a Maria = João deu também a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, também = ambiguidade.

Com :

1) Só João deu um presente a Maria = ninguém mais deu = referente ao sujeito;

2) João só deu um presente a Maria = João só fez isso = referente ao verbo;

3) João deu só um presente a Maria = João deu só um, não dois presentes = referente ao objeto direto;

4) João deu um presente só a Maria = João deu só a Maria, a ninguém mais = referente ao objeto indireto;

5) João deu um presente a Maria, só = forma incomum, truncada

Já com sempre e nunca, o significado antes invariável apresenta agora sutis variações.

Comecemos com o sempre:

1) Sempre João dá um presente a Maria = ambiguidade (sempre ele ou segue o sentido 2);

2) João sempre dá um presente a Maria = sempre faz a mesma coisa = referente ao verbo;

3) João dá sempre um presente a Maria = nunca dá outra coisa = referente ao objeto direto;

4) João dá um presente sempre a Maria = nunca a outra pessoa = referente ao objeto indireto;

5) João dá um presente a Maria, sempre = ambiguidade (segue 2 ou 4).

Agora com nunca:

1) Nunca João dá um presente a Maria = ambiguidade (segue 2 ou, incomum, nunca ele);

2) João nunca dá um presente a Maria = nunca faz isso = referente ao verbo;

3) João [não] dá nunca um presente a Maria = sem o acréscimo do “não” é incomum, com o “não” segue 2;

4) João [não] dá um presente nunca a Maria = incomum, segue 3;

5) João [não] dá um presente a Maria, nunca = segue 3

Apesar disso tudo, continuam todos sendo adjuntos adverbiais (exceto o , que numa das frases acima é adjetivo, como indiquei).

Há alguma explicação sintática para a mudança de sentido conforme sua colocação na frase?

Muito obrigado pela atenção.

Roberto Andrade Servidor público Rio de Janeiro, Brasil 870

Em todas as gramáticas que consultei, as orações substantivas sempre estão depois das principais. Isso é uma regra?

Não posso colocar a subordinada substantiva antes da principal? Li uma resposta do Ciberdúvidas em que se diz que podemos ter as objetivas antes das principais; mas são apenas essas ou todas substantivas?

Na minha visão, podemos ter no mínimo a maioria, já que: conseguimos deslocar os objetos diretos, os indiretos, os sujeitos...

Mas sabemos que apenas a visão de um curioso não conta. Por isso peço ajuda aos Senhores.

Desde já agradeço a atenção.