DÚVIDAS

Sobre a metafonia nominal
O fenómeno da metafonia nominal caracteriza algumas palavras (aquelas especificadas nas transcrições dos dicionários mais importantes), ou é um fenómeno que, talvez por analogia, caracteriza todos os nomes e adjectivos que acabam com -o e que têm /'O, 'E/ (timbre aberto) no masculino singular? Por exemplo, nas seguintes palavras plurais, o timbre da vogal é fechado, ou aberto (tendo em conta que o dicionário da Academia indica um timbre fechado das formas singulares, mas não especifica que os plurais tenham metafonia)? «os abandonos», «os aboios», «os abonos», «os abordos», «os abortos», «os acordos», «os adornos», «os afogos», «os aforros», «são agarenos», «os albedos», «os alhos-porros», «os alvoroços», «os alvorotos», «são amenos», «os amojos», «são anojos», «os antegostos», «os antegozos», «os anterrostos», «é antioquena», «são antioquenos», «os antojos», «os antracenos», «os apodos», «os apojos», «são arabescos», «os arremessos», «os arrochos», «os arroios», «os arrojos», «os arrolos», «os arrotos», «os assertos», «os assopros», «os aterros», «os atropelos», «os autocontrolos», «os autogovernos», «são avessos», «os azotos». É possível que também a consoante nasal heterossilábica iniba a abertura da vogal acentuada, como em abandonos, abonos, agarenos, amenos? Ou será que a metafonia depende do grau em que a palavra é culta?
A pronúncia e as sequências de a mais outra vogal
Na pronúncia lusitana, as sequências de a mais outra vogal têm realizações oscilantes: às vezes a corresponde ao fonema aberto /a/, às vezes tende a fechar-se de um ou dois graus. Parece que esta variabilidade caracteriza seja os ditongos, como em paisagem, saudade, abaetar, caotizar, seja os hiatos, como em país, saúde, baeta, caótico, seja as sequências com o segundo elemento aproximante, como em maior, baiete, taoísmo (onde correpondem aos fonemas consonânticos /j/ e /w/). Os senhores sabem algo a este propósito? Outros exemplos:abainho, abaiuco, abaixador, abalaustrado, abalaústro, abaulado, abaúlo, aedo, aéreo, aerifico, aeriforme, aeroporto, aflautado, agaiatado, agaiato, aí, ainda, airoso, aivão, aiveca, ajaezado, ajaezo, alfaiataria, alfaiate, amainar, amaíno, amapaense, anaeróbio, apaixono, aplaudir, araucária, arcaísmo, arraigado, ataúde, atocaiado, atraiu, audácia, audiência, audiograma, augado, augúrio, aumento, auréola, aurífero, aurora, ausência, austero, austral, autêntica, automático, automobilismo, autonomia, autor, auxílio, ave-do-paraíso.
A pronúncia do grupo consonântico -sc-
Gostava de saber se existe uma pronúncia-padrão para o grupo consonântico "sc" (como crescer, nascer). Eu achava que era preciso pronunciar -ss- em todo o caso, mas acho que tenho ouvido ultimamente uma pronúncia /sh/, como em italiano (então, "nacher", "crecher"). Poderiam falar-me um bocado neste "sc", na sua etimologia e na sua pronúncia?Além disso, acho que também tenho ouvido dizer "cinza" como "chinza". Isto é dialectal, padrão ou apenas uma alucinação minha? Muito obrigado.
Estar vs. está (Brasil)
Lendo trabalhos escolares da escola onde hoje leciono, deparei com um texto redigido por aluno e corrigido por um professor. Texto do aluno: «Que motivos tenho eu para ESTAR falando sobre isso?» Correção do professor: «Que motivos tenho eu para ESTÁ falando sobre isso?» Sempre escrevi como o aluno escreveu. No meu raciocínio, se a locução equivale a falar, que está no infinitivo, o verbo auxiliar deve seguir a lógica desse verbo, atendendo ao seu tempo e ao seu modo. Assim aprendi. No caso, o infinitivo estaria flexionado na 1.ª pessoa do singular e, por isso, não apresenta desinência número-pessoal, o que dá a ele a aparência de um infinitivo não flexionado. Questionado o professor, fui procurada por ele, que me afirmou o seguinte: «Trata-se de uma locução verbal, que equivale a "falar". Você deve estranhar o fato de a primeira pessoa do singular estar aqui, mas, como eu não poderia dizer "quem sou eu para ESTOU aqui", flexiono o verbo na terceira pessoa do singular, uma vez que o verbo auxiliar TEM DE ESTAR flexionado.» Afinal, estou equivocada ao afirmar que o verbo estar, na frase «quem sou eu para ESTAR falando sobre isso» está, sim, flexionado? Ao que me consta, ele está na 1.ª pessoa do singular no modo infinitivo (no caso, pessoal e flexionado). Por favor, gostaria de dirimir essa questão.
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