Em princípio, os arcaísmos fonéticos encontram-se em variedades conservadoras do português. Por exemplo, os dialectos portugueses setentrionais mantêm, no vocalismo e no consonantismo, características que podem ser vistas como arcaicas: o ditongo [ow] em ouro ou roubar1; e o [tʃ] em chamar ou cacho. No entanto, mesmo no dialecto que é considerado padrão, baseado tradicionalmente no falar das classes cultas de Coimbra e Lisboa, há características que podem ser tidas como arcaicas: o ditongo representado por <ei> em maneira, palavra que noutros dialectos apresenta uma solução inovadora, a monotongação de [ej] em [e] — man[e]ra, como se diz em quase todo o Centro-Sul português. Mesmo assim, é de assinalar que tal ditongo não é pronunciado hoje no português-padrão como [ej] mas sim como [ɐj], cujos elementos têm maior contraste entre si (dissimilação). Por outras palavras, apesar de continuar a existir um ditongo como na Idade Média, a sua articulação é diferente, porque o elemento principal do ditongo, [e], passou a [ɐ] para o diferenciar melhor de [j].
1 Na realidade, permanece um ditongo, mas os seus elementos evoluíram no sentido de uma maior diferenciação (dissimilação), pelo que, em muitos dialectos setentrionais portugueses, [ow] passou a [ɐw]. Quer dizer que a pronúncia [ɐw] do ditongo de ouro e roubar é também uma inovação e não é, em rigor, um arcaísmo (ver Luís F. Lindley Cintra, Estudos de Dialectologia Portuguesa, Lisboa, Sá da Costa Editora, 1983, pág. 49).