Consultório - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
Início Respostas Consultório Área linguística: Semântica
Paulo Teixeira Comercial Lisboa, Portugal 2K

A dúvida que se prende é com utilização da palavra gente, que por vezes pode revelar-se um pouco "traiçoeira". Na frase em consideração tenho alguma dificuldade em conseguir perceber se a mesma está ou não correcta[*]. Podem ajudar-me, por favor?

«(...) Gente mascarada em torno de uma fogueira de labaredas altas unia as vozes e num só cântico dançava, bebia, expurgava as suas almas como se estivesse possuída.»

Obrigado.

[*N.E. – Manteve-se a forma correcta, anterior ao Acordo Ortográfico de 1990, no quadro do qual se escreve agora correta.]

Fernando Gaspar Funcionário Público Lisboa, Portugal 1K

Num artigo do consultório deparou-se-me a citação seguinte:

«A irritação ditava-lhe uma violenta resposta, mas já lho não permitia a consciência.» (Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais. 1860).

Esta frase suscitou-me a dúvida seguinte cujo esclarecimento antecipadamente agradeço.

Pergunto se, corretamente, não deverá antes escrever-se: «…mas já não lha permitia a consciência», isto é, escrever «lha» em vez de «lho», porquanto na 2.ª oração estamos referindo-nos à violenta resposta.

Marco Cunha Estudante Lisboa, Portugal 10K

Quando é que se deve usar o artigo indefinido e quando é que se o deve[*] omitir?

Nalgumas situações os substantivos soam melhor com artigo e noutras soam melhor sem artigo.

Por exemplo, as frases «tens namorada?» e «sou professor» soam melhor do que as frases «tens uma namorada?» e «sou um professor», mas as frases «comprei uma camisola» e «ontem falei com uns turistas espanhóis» soam melhor do que as frases «comprei camisola» e «ontem falei com turistas espanhóis».

 

[*N.E. – Mantém-se a sequência «se o», embora a sua gramaticalidade seja controversa.]

Antonio Carlos Costa Engenheiro São Bernardo do Campo, Brasil 2K

Estava lendo Peregrinação de Barnabé das Índias, de Mário Cláudio, quando lá pelas tantas me deparo com a palavra "incompagináveis". Pergunto-lhes que significado essa palavrinha tem. A mesma de incompatíveis, talvez?

Como aparentemente não há registro dela em dicionários, posso concluir tratar-se de um neologismo?

Graça Vieira Estudante Lisboa, Portugal 2K

Gostaria de saber qual a classificação certa para a oração subordinada seguinte:

«Não há nenhum [animal] tão grande que se fie do homem.» (Padre António Vieira)

Não pode a oração ser restritiva? O meu raciocínio é este: os animais grandes não se fiam do homem; os animais que são grandes não se fiam do homem; embora haja animais grandes, estes não se fiam do homem.

O «que» não retoma o «animal grande»? O não se fiar é uma consequência da sua grandeza? A grandeza é uma característica/causa que, apesar de existir, impossibilita, tem como consequência o não se fiarem?

Muito obrigada.

Isabel Maria Fernandes Rodrigues Professora Braga, Portugal 5K

Venho por este meio pedir o especial favor de me esclarecerem a seguinte dúvida: um indivíduo que segue a igreja evangélica é evangélico ou evangelista?

Muito obrigada.

Rui Verdasca Estudante Leiria, Portugal 7K

Embora seja assaz usada e, por isso, porventura, considerada linguisticamente correta, a expressão «é verdade», ou «isso é verdade», não é errada?

Uma vez que nos encontramos numa situação de caracterização – neste caso, que a situação é «verdadeira» –, não deveria ser usado o adjetivo «verdadeiro», em vez do substantivo «verdade»? Deste modo, não deveríamos dizer «isso é verdadeiro», ou «é verdadeiro que...»? Ou será que, neste caso específico, «verdade» adota valor adjetival?

Muito obrigado.

Elsa Guimarães Professora Lisboa, Portugal 1K

Podem dizer-me se a palavra "geodestino" existe em português?

Grata de antemão.

Sandro Pandolpho da Costa Assessor Vitória, Brasil 15K

[Pergunto] se a expressão «condição sine qua non» (ou seu plural «condições sine quibus non»), cuja tradução (não literal) seria «condição indispensável», [será] um pleonasmo chique, pois uma CONDIÇÃO para algo acontecer seria, por natureza, uma circunstância indispensável a tal acontecimento.

[...] Eu não [poderei] classificar a expressão em referência (aprioristicamente) como pleonasmo, pois a palavra condição possui diversas acepções que não remetem à circunstância de indispensável. Perfeito.

A dúvida que persiste é que, numa das acepções, abaixo transcrita, a palavra condição teria o sentido de «indispensáve»l, no dicionário da Infopédia, [...]: «3 – situação ou facto indispensável; cláusula; imposição; exigência.»

Portanto, [...] pergunto: o uso da expressão «condição sine qua non» especificamente no sentido supracitado, no qual a circunstância de indispensável aparece subjacente tanto à palavra condição, quanto ao restante daquela expressão (o trecho sine qua non), configuraria, portanto, pleonasmo?

Pela própria razão ora esboçada, entendo que sim. Estaria certo?

Agradeço a atenção, reiterando os parabéns ao Ciberdúvidas, pelos relevantes serviços prestados ao debate científico!

João Nogueira da Costa Almada, Portugal 9K

Segundo todos os dicionários, a palavra alcateia tem origem árabe, com o significado de «rebanho, bando»1.

Será possível saber-se quando, como e por que razão é que este significado, por extensão semântica, evoluiu para «bando ou grupo de lobos»?

Muito obrigado. 

1 No Dicionário Houaiss, lê-se: «ár. al-qaṭīḤ ‘manada, rebanho’, der. do v. qaṭaḤ ‘dividir, separar parte do todo’.» O Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa, de Adalberto Alves, regista: de الـقـطـيـع (al-qaṭîʿ), «o bando», «o rebanho». O Dicionário Infopédia em linha diz-nos: «Do árabe al-qatai'â, «"ebanho".»