Pergunta:
«A médico, confessor e letrado, nunca enganes»;
«A médico, confessor e letrado, nunca agradeças».
No primeiro caso, estaremos na presença de um complemento directo e, no segundo, de um complemento indirecto, é verdade?
Ou seja, entre enganá-LOS e agradecer-LHES há uma diferença que importa: é que se agradece sempre qualquer coisa (que será um complemento directo, ainda que implicitamente). Em "agradecê-LO", aí, sim, poderíamos observar um C. D.
Poderei fazer este raciocínio e explicá-lo desta forma?
Grata.
Resposta:
O seu raciocínio está correto, e as suas explicações parecem-me lógicas.
Na primeira frase, a preposição a é dispensável, pois na verdade ela não é regida pelo verbo enganar; ao passo que, na segunda frase, a presença da preposição a é obrigatória, pois ela é exigida pelo verbo agradecer.
A diferença entre «enganá-los» e «agradecer-lhes» é precisamente essa: enganar é seguido do pronome os, que representa o COD (complemento de objeto directo, não introduzido por preposição); agradecer é seguido do pronome lhes, que representa o COI (complemento de objeto indireto, introduzido por a). Contudo, no caso deste último verbo, é possível agradecermos alguma coisa (COD) a alguém (COI). Deste modo, agradecer tanto pode ser seguido do pronome o/a(s) como de lhe(s), como de ambos, numa forma contraída (ex.: «Encontrei ontem o colega que me enviou os apontamentos e agradeci-lhos.»).