Sara de Almeida Leite - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Sara de Almeida Leite
Sara de Almeida Leite
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Português e Inglês, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; mestre em Estudos Anglo-Portugueses; doutorada em Estudos Portugueses, especialidade de Ensino do Português; docente do ensino superior politécnico; colaboradora dos programas da RDP Páginas de Português (Antena 2) e Língua de Todos (RDP África). Autora, entre outras obras, do livro Indicações Práticas para a Organização e Apresentação de Trabalhos Escritos e Comunicações Orais ;e coautora dos livros SOS Língua Portuguesa, Quem Tem Medo da Língua Portuguesa, Gramática Descomplicada e Pares Difíceis da Língua Portuguesa e Mais Pares Difíceis da Língua Portuguesa.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Na língua espanhola, por exemplo, existe a distinção entre os termos diseño (que se refere ao design ou projecto) e dibujo (que se refere ao desenho). Também em português existiram essas nuances de significado, com os termos debuxo e desenho. Como já li neste site, o primeiro significaria «esboço» ou «desenho», e o último tinha o sentido de «projecto».

Actualmente está incorporada a palavra design, que comporta o sentido de «desenho de projecto», «desígnio». A minha dúvida é: tenho alguma hipótese de não utilizar este estrangeirismo num relatório de 2008?

Resposta:

Qualquer relatório é dirigido a um público específico, pelo que eu a aconselharia, antes de mais, a considerar se as suas opções de vocabulário estão de acordo com os conhecimentos e as preferências desse mesmo público.

Se quiser evitar o estrangeirismo design, é claro que pode fazê-lo, mas não deverá correr o risco desnecessário de o termo empregado em vez desse não ser entendido ou aprovado pelos leitores do relatório.

Tendo em conta, por exemplo, a definição de design que nos é dada pelo Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora — «método que serve de base à criação de objectos e mensagens tendo em conta aspectos técnicos, comerciais e estéticos» —, será desenho o termo adequado para traduzir o conceito em português?

Parece-me que este é um dos muitos estrangeirismos que, apesar de terem tradução em português, foram incorporados na nossa língua por representarem uma ideia ou conjunto de ideias que a palavra correspondente não continha.

Pergunta:

Será correcto dizer-se «explodir o edifício» ou «explodir com o edifício»?

Resposta:

Pessoalmente, recomendaria que se dissesse «fazer explodir o edifício», em vez de qualquer das opções que o  consulente apresenta, considerando que o verbo explodir é intransitivo (como atesta o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa).

Porém, há dicionários de língua portuguesa que também apresentam o verbo explodir como transitivo (significando, enquanto tal, «provocar uma explosão; fazer rebentar», de acordo com a Infopédia) — certamente em consequência do uso que os falantes lhe têm dado.

Assim sendo, é correcto dizer «explodir o edifício» (o mesmo que «fazer rebentar o edifício»). Quanto ao uso da preposição com, também é legítimo, dado que essa é uma das regências possíveis do verbo explodir (segundo o Dicionário D. Quixote dos Verbos da Língua Portuguesa, de Ana Maria Guedes e Rui Guedes).

Pergunta:

Na sequência de uma entrada devolvida na pesquisa de "reporte" aqui nas Ciberdúvidas relativamente à diferença entre "referir" e "reportar", o vosso comentário termina com a indicação da existência de "reporte" como termo possível num contexto de informações escritas.

Porém, não consegui encontrar nenhum dicionário de português (nem sequer de português do Brasil) que contenha esta entrada. Não me "soa" normal e a tendência é não utilizar e corrigir quando vejo termos como "sistema de reporte", "árvore de reporte" e "unidade de reporte" (em que "reporte" é uma tradução de reporting).

Podem esclarecer/fundamentar a utilização correcta da palavra "reporte" para que também eu possa esclarecer quem tem muita renitência em aceitar este termo?

Obrigada.

Resposta:

Reporte é termo possível, na medida em que se trata de um «derivado regressivo do verbo reportar», nas palavras de A. Tavares Louro. É um substantivo formado da mesma maneira que encaixe, entrave, ou venda.

O facto de ainda não ter sido dicionarizado, como tantas outras palavras portuguesas usadas actualmente, não significa que não possa empregar-se. Pelo contrário: apenas o seu uso poderá determinar a sua consagração.

Pessoalmente também desaconselharia, à partida, o uso de reporte para traduzir os termos ingleses report e reporting. Contudo, parece-me evidente que não há alternativas verdadeiramente satisfatórias, e que o nome reporte vem preencher uma lacuna, nesse sentido.