Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora
O que pensam os falantes de português da sua língua?
Entrevista do Ciberdúvidas a três estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa

A língua portuguesa é, atualmente, um idioma falado por mais de 200 milhões de pessoas. Foi a pensar nos falantes de português oriundos de diferentes países e nas suas perspetivas enquanto falantes de diferentes variedades desta língua que o Ciberdúvidas teve a iniciativa de se sentar à mesa com três estudantes do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, provenientes de três países cuja língua oficial é o português. O resultado deste encontro foi a conversa que divulgamos no vídeo dividido em duas partes que acompanha este apontamento da consultora Inês Gama.

Pergunta:

A frase que se segue apresenta um verbo copulativo; relativamente à concordância, na presença de um pronome indefinido invariável, perguntava-vos se essa concordância foi respeitada:

«Ela sempre fora uma mulher calma, mas depois tornou-se ALGUÉM desesperado, inseguro.»

Obrigado.

Resposta:

Na frase apresentada pelo consulente, os adjetivos desesperado e inseguro estão na forma correta (masculino, singular), uma vez que concordam em género e número com o pronome indefinido alguém.

Em português, quando o constituinte que desencadeia concordância é um pronome indefinido como, por exemplo, algo, alguém, nada ou ninguém, os elementos que com este concordam assumem por defeito um traço correspondente ao valor não marcado dessa categoria, ou seja, apresentam uma forma singular para o número e masculino para o género. Já a concordância verbal é desencadeada obrigatoriamente na terceira pessoa do singular.

Contudo, caso se pretenda que estes adjetivos concordem em género e número com o nome mulher, então, ter-se-á que retirar o pronome alguém da segunda oração para que os adjetivos desesperado e inseguro tenham como referente o nome mulher, concordando com este, como se pode verificar em (1).

(1) «Ela sempre fora uma mulher calma, mas depois tornou-se desesperada e insegura.»

Os mouros e a língua portuguesa
A influência árabe no português

«Existem, hoje, no português, termos relativos à cozinha, aos alimentos, ao comércio, à agricultura, às ciências, às artes, entres outros, que provêm desta influência moura» recorda a consultora Inês Gama neste apontamento em que discute a influência de línguas como o árabe no português.

Pergunta:

Na obra Amor de Perdição, há uma incoerência de datas: no cap. I, assume-se que o nascimento de Simão é em 1784, é preso em 1804/1805 com 18 anos, o que não bate certo...

A que se deve esta incoerência?

Resposta:

Na edição digital da Imprensa Nacional da obra Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco, no capítulo I, o narrador afirma que leu, no cartório da Cadeia da Relação, a informação sobre a entrada na prisão de Simão Botelho, nas páginas «[…] das intradas dos presos desde 1803 a 1805» (pág. 17). Ora, como Simão nasceu em 1784, como é indicado mais à frente no capítulo I, poder-se-á interpretar que este terá sido preso em 1803, ano do seu décimo nono aniversário, mas, muito provavelmente, antes do seu dia de anos, tendo, portanto, na época da sua entrada na prisão ainda 18 anos. Tendo em conta esta interpretação, poder-se-á, então, assumir que não há nenhuma incoerência de datas.

Todavia, segundo Lupi Bello em "Narrativas literárias e narrativas fílmica: o caso de Amor de Perdição", Camilo usa as datas em Amor de Perdição de forma pouco rigorosa, o que leva «a cair em imprecisões temporais, umas vezes, aparentemente, por mero descuido seu e outras por atender, acima de tudo, ao simbolismo de que elas estão embebidas». Portanto, há também a possibilidade de a idade referida como entrada na prisão ser uma idade simbólica e não a idade exata do protagonista. Neste caso, os dezoito anos de Simão são o simbolismo da idade dos sonhos e ideais.

O livro Amor de Perdição é considerado...

Concordância com «a gente»
«A gente irá explicar» ou «A gente iremos explicar»?

Do ponto de vista normativo, a concordância com «a gente» deve ser feita na terceira pessoa do singular, tal como explica a consultora do Ciberdúvidas Inês Gama, neste apontamento divulgado no programa Páginas de Português, da Antena 2, em 28 de janeiro de 2024.