Inês Gama - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Inês Gama
Inês Gama
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Licenciada em Português com Menor em Línguas Modernas – Inglês pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e mestre em Português como Língua Estrangeira e Língua Segunda (PLELS) pela mesma instituição. Fez um estágio em ensino de português como língua estrangeira na Universidade Jaguelónica em Cracóvia (Polónia). Exerce funções de apoio à edição/revisão do Ciberdúvidas e à reorganização do seu acervo.

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

Mais uma vez recorro ao vosso muito útil apoio.

Creio que o sentido destes versos, que Camões põe na voz do Adamastor, será o de que o emissor ["Eu"] não conseguiu resistir à ilusão, foi ludibriado por Tétis e Dóris. Será? Contudo, à letra parece ser exatamente o contrário. Como explicar esta negação?

Obrigada, desde já!

Resposta:

O episódio do Adamastor é um dos mais relevantes da obra épica Os Lusíadas e situa-se entre as estrofes 37 e 60, do canto V. É aqui que é narrado o encontro entre a armada de Vasco da Gama e o mostrengo Adamastor, um dos protagonistas do episódio.

O verso a que a consulente faz referência pertence à narração que o Adamastor faz dos acontecimentos que o fizeram transformar-se num penedo e está inserido na seguinte frase, da estrofe 54: «Eu, que cair não pude neste engano / (Que é grande dos amantes a cegueira), / Encheram-me, com grandes abondanças, / O peito de desejos e esperanças.». Note-se que, quando o Adamastor declara «que cair não pude neste engano», está, na realidade, a manifestar que não conseguiu perceber que Dóris, mãe de Tétis, ninfa por quem nutria uma paixão, o estava a ludibriar, pois, a construção «cair no engano», no português da época quinhentista significa, tal como explica Sousa da Silveira, «percebê-lo, dar por êle.»1.

Portanto, neste verso, o Adamastor declara que não percebeu que Dóris Tétis o tinham enganado, levando-o a acreditar que poderia ter uma noite de prazer com a ninfa que amava. É este engano que o leva a, numa noite, cansado da guerra que trava com Neptuno pelo ...

O pluricentrismo do português
Reflexão na sequência de uma entrevista dos alunos do Iscte ao Ciberdúvidas (II)

Na sequência de uma entrevista aos alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas*, a consultora Inês Gama apresenta, neste apontamento, uma reflexão sobre o pluricentrismo da língua portuguesa. 

* Ver "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024).

Pergunta:

Podia dizer-me o porquê de usar o verbo no futuro de pretérito nas seguintes frases :

1- «Depois disto, o rei D. Dinis, o sexto rei de Portugal, viria a criar a Universidade de Coimbra...»

2 - «... Mas tal só viria a suceder-se em 1147, durante a governação de D. Afonso Henriques...»

3- «... a sua derrota perante os muçulmanos viria a ditar o fim do seu império no ano de 711.»

Em geral, tal aplicação de verbo no futuro de pretérito nestas frases parece seguir uma regra comum, não é?

Se sim, qual?

Obrigado

Resposta:

Nas frases apresentadas, o verbo vir, na forma viria, encontra-se na terceira pessoa do singular do condicional simples.

Segundo as gramáticas, o condicional pode ser interpretado como um modo ou um tempo. E veicula uma ideia de hipótese ou desejo e pode ser substituído pelo pretérito imperfeito do indicativo, como se observa no contraste entre os exemplos (1) e (2):

(1)    Gostaria de visitar Londres.

(2)    Gostava de visitar Londres.

Nas gramáticas em que se realça o seu uso como tempo verbal, como é o caso da Nova Gramática do Português Contemporâneo de Cunha e Cintra, prefere-se a designação de futuro do pretérito ou futuro do passado. Neste caso, o condicional utiliza-se para i) designar ações posteriores à época de que se fala, ii) como forma polida do presente, geralmente, denotadora de desejo, ...

A aprendizagem da língua materna
Reflexão na sequência de uma entrevista dos alunos do Iscte ao Ciberdúvidas (I)

Na sequência de uma entrevista aos alunos do Iscte pelo Ciberdúvidas*, a consultura Inês Gama apresenta, neste apontamento, uma reflexão sobre o ensino e aprendizagem do português como língua materna.

* Ver "O que pensam os falantes de português da sua língua?" (09/02/2024).

O que pensam os falantes de português da sua língua?
Entrevista do Ciberdúvidas a três estudantes do Iscte-Instituto Universitário de Lisboa

A língua portuguesa é, atualmente, um idioma falado por mais de 200 milhões de pessoas. Foi a pensar nos falantes de português oriundos de diferentes países e nas suas perspetivas enquanto falantes de diferentes variedades desta língua que o Ciberdúvidas teve a iniciativa de se sentar à mesa com três estudantes do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, provenientes de três países cuja língua oficial é o português. O resultado deste encontro foi a conversa que divulgamos no vídeo dividido em duas partes que acompanha este apontamento da consultora Inês Gama.