Pergunta:
No termo acento, não me é claro o motivo do substantivo ser escrito acento, e não "acêntuo", que concordaria perfeitamente com a conjugação da sua forma verbal: acentuo, acentuas, acentua, etc. A exemplo do substantivo perpétuo: perpetuo, perpetuas, perpetua, etc. De acordo com o que eu conheço da lógica da língua portuguesa, "acêntuo" deveria ser um substantivo (bem como "átuo", em vez de ato), e, "acento", a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo "acentar", que não é uma palavra com significado na língua portuguesa. Qual a razão dessa forma não vigorar na língua portuguesa, ou o porquê de usar-se acento, e não "acêntuo"?
Resposta:
A pergunta parte do pressuposto (errado) de que as palavras acento (nome), perpétuo (adjetivo) e ato (nome) derivam de alguma forma direta dos verbos com que relacionam, respetivamente, acentuar, perpetuar e atuar. E parece também julgar-se que, aceitando acento como nome, então – prevendo a eventualidade de se contra-argumentar com um resultado ilegítimo –, também se deve aceitar "acento" como 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo de um verbo com a forma de infinitivo "acentar", em lugar da que de facto é legítima, acentuar.
Nada disto, porém, funciona como supõe a pergunta, porque sucede que, na estruturação de uma família de palavras, não contam apenas a derivação ou a composição que é possível no português contemporâneo. Apesar de se observarem alternâncias vocálicas em pares como almoço (1.ª pessoa do presente do indicativo do verbo almoçar, com o aberto)/almoço (substantivo, com o fechado), não são elas de molde a concluir que a segunda forma deriva da primeira no contexto linguístico contemporâneo. De forma semelhante, não se pode afirmar que o adjetivo perpétuo deriva de perpetuo (1.ª pessoa do presente do indicativo do verbo perpetuar) ; e menos ainda é aceitável pensar que haverá uma «lógica da língua portuguesa» a legitimar as formas nominais "acêntuo" e "átuo", que, evidentemente, estão incorretas. É preciso ter em conta a história das palavras, considerando a diacronia quer das suas relações de derivação quer da sua integração no léxico do português.
Assim, consultando o