Mandonismo, «abuso, mania do mandão; prepotência» (Dicionário de Caldas Aulete), constitui uma palavra bem formada em português, mas o seu uso mais significativo e a sua fixação em dicionário parecem ter relação especial com o português do Brasil.
Do ponto de vista da sua morfologia, mandonismo deriva de mandão, cujo radical toma a forma mandon- na derivação sufixal: mandon- + -ismo. Esta passagem da terminação -ão a -on não é surpreendente: encontra-se em platonismo, derivado de Platão, e em unionismo, que deriva de união. Quer isto dizer que, mesmo que não tivesse entrada nos dicionários, o vocábulo estaria latente e disponível para ocorrer em discurso, em qualquer variedade da língua portuguesa.
Na perspetiva histórica, porém, nota-se que ao registo de mandonismo.se associa, até época relativamente recente, a classificação de brasileirismo, como se verifica, por exemplo, no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001) e no Aurélio XXI, ambos enquadráveis na lexicografia brasileira. Os dicionários elaborados em Portugal, disponíveis em suporte impresso, muito raramente acolhem a palavra: embora José Pedro Machado a registe como brasileirismo no seu Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Lisboa, Sociedade da Língua Portuguesa/Publicações Alfa, 1991), o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (2001) não a consigna. Observe-se, mesmo assim, que os dicionários eletrónicos mantidos e atualizados em Portugal já apresentam mandonismo – cf. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa e dicionário da Porto Editora (na Infopédia). Em suma, mesmo que o vocábulo em questão tenha conhecido uso frequente ou exclusivo no Brasil, o certo é que tal origem deixou de ser relevante em Portugal, onde hoje também circula e se faz aceitar.
Uma última observação, sobre o uso da forma correspondente em espanhol, mandonismo. Embora o dicionário da Real Academia Espanhola não o registe, uma consulta pelo Google revela que o vocábulo tem tido uso em textos de língua espanhola, primeiro, esporadicamente, na segunda metade do século XIX, e depois mais sistematicamente a partir da década de 20 do século XX (agradece-se ao consultor Luciano Eduardo de Oliveira esta pesquisa). Tudo isto será sugestivo de o português mandonismo constituir, afinal, um empréstimo do espanhol, mas, por enquanto, faltam dados que confirmem tal hipótese.