Aura Figueira - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Aura Figueira
Aura Figueira
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Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante de Estudos Portugueses e Franceses, pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, com uma pós-graduação em Ciências da Documentação e da Informação, variante de Biblioteconomia. É professora de português dos ensinos básico e secundário. 

 
Textos publicados pela autora

Pergunta:

«O prussiano não se atirou sobre o oponente, tamanho era seu espanto.» Como se classificam as orações na frase?

Observo que, se a ordem delas for alterada – «Tamanho era seu espanto que o prussiano não se atirou sobre o oponente» –,curiosamente, a análise se altera também. Porquê?

Obrigado.

Resposta:

São apresentadas duas frases com as mesmas palavras, mas cuja análise sintática é diferente, visto que o posicionamento dos constituintes foi alterado. Passemos, então, à sua classificação.

1. «O prussiano não se atirou sobre o oponente, tamanho era seu espanto.» 

A primeira frase tem duas orações:

oração subordinante  – «O prussiano não se atirou sobre o oponente...»

oração subordinada adverbial causal – «...tamanho era seu espanto.»,  em que está omissa a conjunção, embora seja evidente o nexo de causalidade «(porque) era tamanho o seu espanto 

2. «Tamanho era seu espanto que o prussiano não se atirou sobre o oponente.»

Nesta segunda frase, como se invertem os termos, o sentido da frase altera-se: aquilo que na primeira era causa, agora, é o que provoca uma consequência.

Assim, a classificação das orações desta frase é a seguinte:

oração subordinante – «Tamanho era seu espanto»

Pergunta:

Na frase «Eles jogam golfe regularmente.», «regularmente» é modificador de grupo verbal ou modificador de frase?

Eu diria, em primeira análise, que é de grupo verbal, porque, a meu ver, pode ser interrogado e negado:

É regularmente que eles jogam golfe? Eles jogam golfe não regularmente.

Além disso, não se trata de uma intervenção do interlocutor, mas sim da constatação de um facto.

Creio que está ao mesmo nível que «diariamente» na frase «Eles treinam diariamente futebol.»

No entanto, têm-me dito que é de frase e estou baralhada, porque não percebo porquê…

Podem ajudar-me?

Resposta:

     Uma das formas de distinguir um modificador de frase de um modificador de grupo verbal é, como muito bem diz e faz a nossa consulente, aplicar-lhe o teste da interrogação e da negação, já que o primeiro não pode ser interrogado nem negado.

     Mas verifica-se ainda uma outra distinção: enquanto o modificador de frase se subordina a toda a oração, não fazendo, portanto, parte do predicado:

        ♦ «Na minha opinião, as crianças deviam ter ido para a cama mais cedo.» (Gramática do Português)

modificador do grupo verbal está subordinado ao próprio grupo verbal, logo, faz parte do predicado, designando uma circunstância acessória da ação.

      Vemos, assim, que na frase «Eles jogam golfe regularmente.», o advérbio regularmente faz parte do grupo verbal, pode ser interrogado e ...

Pergunta:

     Segundo a gramática de Lindley Cintra, semivogais são os fonemas /i/ e /u/ quando juntos a uma vogal com ela formam uma sílaba. A minha dúvida é se i e u estiverem juntos numa palavra a formarem uma sílaba qual dos dois fonemas é a semivogal e qual é a vogal. Qual é o critério?

Obrigado.

Resposta:

      Segundo Evanildo Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa, «Chamam-se semivogais as vogais i e u (orais ou nasais) quando assilábicas, as quais acompanham a vogal numa mesma sílaba. Os encontros vocálicos dão origem aos ditongos, tritongos e hiatos. (...)

      Ditongo é o encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, na mesma sílaba: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei.

    Sendo a vogal a base da sílaba ou o elemento silábico, é ela o som vocálico que, no ditongo, se ouve mais distintamente. 

        Os ditongos podem ser:

            a) crescentes e decrescentes

            b) orais e nasais

            Crescente é o ditongo em que a semivogal vem antes da vogal: água, cárie, mágoa.

           Decrescente é o ditongo em que a vogal vem antes da semivogal: pai, mãe, rei.»

   Acreditamos que esta citação do gramático brasileiro esclarece a dú...

Pergunta:

O verbo recorrer, quando transitivo indireto, rege um complemento indireto ou um complemento oblíquo?

Grata pela atenção.

Resposta:

    O verbo recorrer, quando utilizado como transitivo indireto, tanto pode selecionar um complemento indireto como um complemento oblíquo, dependendo do sentido na frase ou no contexto. 

    Como «socorrer-se» ou «apelar», seleciona complemento indireto:

  • «Nos momentos maus, recorro sempre à família.»*
  • «Acharam que não valia a pena recorrer aos tribunais.»*

    No sentido de «interpor recurso», rege complemento oblíquo:

  • «O réu recorrerá da sentença.»*

 

*CasteleiroJoão Malaca (dir.)Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, Lisboa: Texto Editores, 2007

Pergunta:

Na frase «Ele morreu em Lisboa», como se classifica o verbo e «em Lisboa»?

Obrigado.

Resposta:

    O verbo morrer, no sentido de «deixar de viver», é intransitivo, segundo o Dicionário Gramatical de Verbos Portugueses, de Malaca Casteleiro.

    Deste modo, a locução «em Lisboa» é um modificador do grupo verbal, pois não sendo selecionada pelo verbo, é uma expressão que pode ser eliminada ou mudada de lugar na frase.