Algumas das redundâncias mais repetidas nos media portugueses. «[São] como os juros que os bancos nos pagam pelos nossos depósitos (à ordem ou a prazo). Não acrescentam nada ao capital inicial. Um investimento linguístico a evitar.» Crónica do jornalista Wilton Fonseca no jornal i de 25/11/20011, que aqui se transcreve na íntegra, com os devidos agradecimentos ao autor e ao matutino lisboeta.
Veio no jornal: «Testemunhas oculares garantiram ontem ter visto entrar na Somália tropas da Etiópia.»
Testemunha é a pessoa que assistiu, presenciou, testemunhou um facto ou acontecimento. Daí que a palavra designe a pessoa que declara perante a justiça ter presenciado ou ter tido conhecimento de algo. Dizer que uma testemunha ocular “viu” (ou garantiu ter visto) um acontecimento constitui uma redundância. Se a testemunha não tivesse visto, não poderia ganhar o adjetivo “ocular”, nem mesmo seria testemunha de coisa nenhuma. O mesmo acontece em relação a “testemunha auricular” e a mil outras redundâncias (pleonasmos) com que somos diariamente contemplados – entre elas “subir para cima”, “descer para baixo”, “destruir completamente”, “decisão final”, “recuar para trás”, “acabamento final”, “breve alocução”, “monopólio exclusivo”, “principal protagonista”, “lograr conseguir”, “consenso geral” e tantas outras.
A redundância carateriza-se por nada acrescentar à ideia central já expressa: subir já contém a ideia de ser «para cima»; descer encerra a ideia de «para baixo»; se o monopólio não é exclusivo, deixa de ser monopólio; “breve alocução” não faz sentido porque uma alocução já é, em si, um discurso breve. As redundâncias são como os juros que os bancos nos pagam pelos nossos depósitos (à ordem ou a prazo). Não acrescentam nada ao capital inicial. Um investimento linguístico a evitar.
In jornal i, de 25 de novembro de 2011, sob o título original Redundâncias, na crónica semanal do autor, Ponto do i, que assinala alguns erros na escrita jornalística, em Portugal