Calor é a palavra que domina os dias que correm. Uma palavra simples e corrente, que anda pela língua portuguesa pelo menos desde o século XV e que agora ascende à categoria de destaque empurrada pela realidade quotidiana.
Um pouco por todo o lado, os termómetros sobem, atingindo valores pouco comuns. Sente-se, então, na pele a palavra que advém do latim calor, caloris, que já significava «quente» ou «calor».
A língua portuguesa, ao acolher esta palavra, guardou os seus sentidos e alargou-os a outras realidades. Assim, calor tanto significa o estado do que está quente como a transferência física de energia ou o estado da atmosfera, tudo estados físicos exteriores ao homem.
Mas, o calor também pode vir de dentro (diz-se «sentiu uma onda de calor invadi-lo») ou pode transmitir-se ao outro, significando «demonstração de afeto», como em «o calor de um abraço». Com efeito, calor pode associar-se a inúmeras manifestações de sentimentos positivos, referindo intensidade, simpatia, afabilidade ou cordialidade.
Estes são os significados ligados à noção de «calor humano» e não são estes que nos incomodam. Aliás, eles são sempre bem-vindos. O que incomoda é o «calor de rachar» ou o «calor tropical» ou até aqueles momentos do «pino do calor». Estes são os significados que neste momento gostaríamos de dispensar e com eles a realidade que evocam.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Calor_Carla Marques ]
Crónica incluída no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 24 de julho de 2022.