«Se a pujança do português permite a criação de obras literárias em países de todos os continentes, como não se considerar esta língua como uma riqueza dos que a falam?», pergunta — e responde — a presidente do ILTEC, em artigo publicado no semanário Expresso de 29 de Janeiro de 2011.
Numa ocasião em que tanto se fala sobre problemas da nossa economia, é um erro esquecer que o conhecimento e o uso do português constituem uma mais-valia no campo das interacções económicas e um dos mais importantes investimentos que cabem à iniciativa governamental e colectiva. Discutir um negócio ou argumentar sobre uma posição política, ou um projecto científico e cultural, usando o português com a facilidade de ser a língua materna (e, nos países da CPLP, a língua de escolarização) tem valor económico e social. Se o Brasil criou há pouco uma universidade, a Unilab, que se destina a reforçar os laços com os países lusófonos, é porque acredita na importância de enriquecer a língua portuguesa no campo da ciência actual e das tecnologias, e do uso quotidiano nos países-membros da CPLP. A formação de professores, uma das suas valências, é também uma forma de difusão da língua, assim como o é a Universidade Aberta de Moçambique, criada durante a recente ida de Lula da Silva a esse país. Acrescente-se que na publicação da Fundação Luso-Americana de 2010 se mostra, com argumentos e dados estatísticos, a importância e a larga distribuição do ensino do português nos EUA. E se a pujança do português permite a criação de obras literárias em países de todos os continentes, como não se considerar esta língua como uma riqueza dos que a falam?
No sentido da sua difusão e facilidade no uso, tem-se avançado pouco em Portugal, embora existam aplicações computacionais que estimulam a utilização do português na Internet, ao serviço de uma necessária internacionalização, da dinamização cultural e da investigação científica. No entanto, muito há ainda a fazer. Ao contrário da ausência de estímulos que se sente na criação de meios para o reforço e difusão da língua, é preciso que se proteja a produção em português através de uma política de incentivo à tradução e à realização de obras de base para a formação escolar, do estímulo à produção de obras teóricas e de aplicação em todos os campos do saber. Sem este apoio, o Estado não pode dizer que participa activamente no objectivo de difundir a língua portuguesa. Note-se que, com a adopção de um acordo ortográfico que suprime muitas diferenças ortográficas entre os países que usam o português, o livro produzido em Portugal tem um vasto mercado e um real valor económico.
Portugal tem que encarar a sério esta questão e alargar as acções que a promovam. Poderá fazê-lo de muitos modos: aumentando e desenvolvendo o ensino da língua nos países africanos e em Timor; preparando e produzindo materiais didácticos; apoiando projectos dinamizadores de parcerias entre Portugal e os países de língua oficial portuguesa; divulgando livros e materiais multimédia em português; construindo terminologias científicas e técnicas indispensáveis para a consolidação do português nas áreas científicas e tecnológicas; criando centros de cultura e língua portuguesa de acordo com prioridades sociogeográficas; utilizando sempre a língua portuguesa em organismos internacionais para lhe atribuir o prestígio que lhe é devido.
Uma das maiores riquezas da Europa é a sua diversidade linguística. Essa é a justificação de um projecto em curso, Language Rich Europe, que pretende informar e divulgar as línguas faladas nos países da UE. Se queremos uma área de investimento económico, temos de acreditar que a língua portuguesa pode servir-nos nesse objectivo.
Artigo publicado no semanário Expresso de 29 de Janeiro de 2010