Uma vida dedicada ao ensino, à língua portuguesa, à linguística, mas também ao extenso território dos afetos – a da professora catedrática portuguesa (jubilada) Maria Helena Mira Mateus, neste seu livro de memórias. Nele passa em revista a sua vida familiar – «a infância, a adolescência e a juventude, o casamento, o nascimento dos [seus] seis filhos e as suas singularidades» –, o início da experiência académica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde descobre «perspetivas teóricas surpreendentes que determinaram um novo olhar sobre o estudo da língua». A escolha da fonética como área de estudo privilegiado, as influências do movimento estruturalista de Ferdinand Saussure, com o estudo integrado da linguística e da semiologia, ou de Noam Chomsky, o teórico da Gramática Generativa. Tudo influências que a ajudaram a precisar o caráter científico da linguística, num país onde a tradição impunha a análise filológica.
«Acredito no trabalho conjunto – escreve a dado passo –, fundei Associações, impulsionei projetos, criei um instituto para trabalhar sobre o português com novos conceitos que incluem uma perspetiva computacional do tratamento da língua, e tudo fiz com outros que partilhavam das mesmas convicções.»
Árdua tarefa de erguer instituições, como quem constrói casas, para o estudo e a reflexão teórica e prática, como o ILTEC.
E há as inúmeras viagens que fez, ora para participar em congressos, ora para integrar ações de formação de professores: «Foram muitas as viagens e muitos foram os caminhos em que ensinei e investiguei sobre a língua portuguesa». De entre elas, destacam-se as realizadas no espaço da geografia da língua portuguesa – nomeadamente ao Brasil, Cabo Verde, Macau e Moçambique – que lhe trouxeram a perceção da pluralidade do português e, de certo modo, contribuindo que as suas áreas de interesse, ultrapassassem a fonética e se orientassem para a didática do português, com a criação, no âmbito do ILTEC, do grupo Língua e Diversidade Linguística, que, sob sua coordenação, desenvolveu vários projetos, como foram os casos da Diversidade Linguística na Escola Portuguesa, de A Turma Bilingue e o da criação de estratégias e matérias para o ensino do Português Língua Não Materna (PLMN).
Dos anos mais recentes, Maria Helena Mira Mateus fala do seu interesse pela diversidade do português e pela definição de políticas de língua: «No princípio de 2000 veio ter comigo uma ideia que me pareceu fascinante: a investigação da relação entre língua e cultura. Apresentei-a em público a partir da seguinte pergunta: "Se a língua é um fator de identificação cultural, como se compreende que uma língua viva em diferentes culturas"?».
Em resumo, uma obra de leitura obrigatória para quantos se interessam e gostam da língua portuguesa.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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