A palavra desconfiança passeou-se pela comunicação social nos últimos dias, vinda do Reino Unido e acompanhada por «moção». Alvo: Theresa May. A moção de desconfiança* à primeira-ministra britânica foi lançada pela ala eurocéptica do seu partido. Motivo: acordo para o «Brexit». O substantivo feminino singular significa «alta de confiança», mas também «suspeita», «receio» e «dúvida». Exemplo: «Não sabia porquê, mas o rapaz inspirava-lhe desconfiança.» Quem «suspeita» de May sabe porquê, mas não conseguiu derrubá-la. Na quarta-feira [12/12/2018], a primeira-ministra [britânica] conquistou «um salvo-conduto de 12 meses para continuar à frente dos destinos do Partido Conservador – e consequentemente do Governo –, depois de sair vitoriosa da moção de desconfiança». Conseguiu 63% de votos favoráveis e, confiante, rumou a Bruxelas.
Ali, ouviu: «Pela enésima vez, os líderes europeus disseram à primeira-ministra britânica que não aceitam mexer no acordo de saída, nem considerar novas ‘obrigações jurídicas vinculativas impostas à UE’.» Os políticos «desconfiam» uns dos outros, os eleitores «desconfiam» dos políticos, os cidadãos «desconfiam» dos jornalistas, das empresas que gerem as redes sociais, das Forças Armadas, dos banqueiros, dos juízes, da «caridade» das organizações não-governamentais que alimentam grandes superfícies e promovem «negócios sociais» – palavras que jamais deveriam andar juntas. Desconfiança significa ainda «falta de esperança», «ciúme» e «temor de ser enganado».
Os portugueses têm vocação para a pirronice, termo que quer dizer «desconfiança por sistema» – bem traduzida na expressão «quando a esmola é grande, o pobre desconfia». Mas continua a ser difícil não desconfiar de muitas instituições e pessoas.
* França está de luto depois de mais um ataque terrorista no seu território. Na terça-feira à noite, um homem abriu fogo no afamado mercado de Natal de Estrasburgo, tirou a vida a pelo menos quatro pessoas e feriu outras 12. O suspeito do ataque é Chérif Chekatt, um francês de 29 anos, nascido em Estrasburgo e condenado 27 vezes por delitos comuns em França, Alemanha e Suíça, que escapou do local do crime metendo-se num táxi. Ao fim de 48h de fuga, foi abatido pela polícia perto do bairro de Neudorf. Antes da sua localização, porém, foi montada na região circundante de Estrasburgo – cidade situada no Leste francês, junto à fronteira com a Alemanha – uma operação policial de larga escala. Foi decretado o mais elevado nível de ameaça terrorista e mais de 700 agentes foram mobilizados. Foi ainda imposto um recolher obrigatório e todos os veículos que atravessaram a Ponte Europa – que faz a ligação entre França e Alemanha – foram revistados. O Estado Islâmico reivindicou o ataque, na quinta-feira, mas a polícia francesa não encontrou ligações entre Chekatt e o grupo terrorista. Ainda assim, continua em busca de eventuais cúmplices e deteve sete pessoas para interrogatório.