Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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No melhor pano cai a nódoa? A frase feita pode pecar por excesso de optimismo…

No estado da língua («que estamos com ela», diriam os angolanos ou os moçambicanos) o menos que se espera é assistir ao desastre ocorrido no Jornal da Noite da SIC, edição de 23 de Fevereiro p. p. Do sinistro resultou um morto e dois feridos. Mas já lá iremos.

Notícia do Jornal da Tarde da RTP-1 de 25 de Fevereiro de 2007 sobre o anúncio de José Ramos-Horta em candidatar-se à presidência da República de Timor-Leste: «A insistência da comunidade internacional foi dos factores que mais pesou na decisão do actual primeiro-ministro [timorense].»

Como o verbo pesar tem como sujeito «factores», deverá ir para a 3.ª pessoa do plural: «A insistência da comunidade internacional foi dos factores que mais pesou na decisão do actual primeiro-ministro [timorense].»

Odete Santos, na semana passada, na Assembleia da República, declarou que «não faz sentido que o "não" queira ganhar por portas e travessas aquilo que perdeu no referendo.»

As expressões idiomáticas (ou lexicalizadas) são comuns em todas as línguas. A expressão idiomática corresponde a uma sequência coesa de palavras, que exprime uma noção única, indecomponível, pois o sentido da expressão não é o somatório do significado de cada palavra que a constitui.

Uma despachada conjugação do verbo <i>posar</i>

Perante esta despachada conjugação do verbo posar é caso para perguntar se a actriz voa vestida...

Correio da Manhã

Na introdução do concurso da RTP-1 Grandes Portugueses, de 20 de Fevereiro p. p., a apresentadora Maria Elisa disse o seguinte acerca de Fernando Pessoa: «O mundo reconhecê-lo-á como um dos grandes poetas do século XX, traduzido em 37 línguas, tantos quantos os anos que viveu.»

Não é tantos, mas tantas: « (…) traduzido em 37 línguas, tantas quantos os anos que viveu».

 «Tantas» refere-se a «línguas» (não a «anos»): são tantas línguas quantos os anos.

 

«Qualquer homem daria tudo para estar no seu lugar, mas Matt preferia não tê-lo feito1

Estando a construção verbal na negativa, o pronome o deve preceder a forma verbal: «Qualquer homem daria tudo para estar no seu lugar, mas Matt preferia não o ter feito

Exemplos: «Vi-o ontem» ≠ «não o vi ontem»; «dei-lhe o livro» ≠ «não lhe dei o livro»; «preferia levá-lo ao futebol» ≠ «preferia não o levar ao futebol».

1 in jornal 24 Horas de 21 de Fevereiro de 2007 p. p.

«Que é que hoje aprendestes? Lembras-te?», ouviu-se à jornalista da RTP-11, autora de um peça sobre o autismo, em diálogo com uma menina afectada pela doença.

O que a jornalista devia ter dito era «O que é que tu hoje aprendeste?», sem s a terminar a forma verbal, e não esse erro, frequente na linguagem oral, em que os falantes fazem analogia com a 2.ª pessoa do singular da generalidade dos tempos verbais. 

O erro – ou, antes, o desleixo – na grafia dos números ordinais espalhou-se como o óleo despejado por um petroleiro no mar alto. É nos jornais, nas legendas da televisão e do cinema1, em romances de nomeada, até em manuais escolares – e de Português, inclusive. Não se esperava, convenhamos, é que a contaminação atingisse também os organizadores de mais uma edição do Camp...

Uma confusão recorrente

Demais ou de mais? é uma das dúvidas – e confusões – mais frequentes no português corrente, razão, de resto, de permanentes perguntas de quem consulta o Ciberdúvidas. Vejamos esta dúvida de um leitor do jornal 24 Horas1: «Nenhuma vida é demais» ou «Nenhuma vida é de mais»?

A particularidade dos tabuísmos no Porto

Em nenhum outro lugar de Portugal fala um português tão rico como no Porto — escreve neste artigo* o jornalista e escritor Paulo Moura, sustentando como, aí, «os palavrões não são obscenos: são uma arte e uma filosofia».

 

¹ in jornal Público de 18/02/2007