Há palavras tão engraças e tão expressivas em português, que é uma pena não existirem!...
É o caso de "parlapiê", um substantivo usado em registo informal para designar uma conversa ou maneira de falar que demonstra capacidade ou vontade de persuadir os outros por meio do discurso, ainda que esse objectivo não seja conseguido. Pode, portanto, ter uma conotação negativa, na medida em que seria usado num frase deste tipo: «Ele pôs-se com um grande parlapiê, mas não me convenceu a comprar o computador.» "Parlapiê" será, assim, sinónimo de conversa, quando esta palavra tem, também, o significado de «discurso de intenção persuasiva não necessariamente convincente» (sobretudo em registo familiar).
De onde vem não sei, mas é provável que esteja relacionado com parlapatão e parlapatice, que por sua vez vêm do verbo parlar — cujo étimo é provençal (daí o parler francês). De acordo com o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, parlar é «falar muito sobre assuntos, geralmente, de pouco interesse e com entusiasmo», sendo o parlapatão um impostor, que se vale de um discurso cheio de palavras falsas para tirar proveito da credulidade dos outros. O "parlapiê" será, portanto, esse mesmo discurso.
Quanto ao adjectivo "escanifobético", o Ciberdúvidas esclarece que começou a ser usado por jovens nos anos 50 e designava algo estranho, esquisito. É um termo que foi caindo em desuso, apesar de ter sobrevivido por várias décadas e de ter conseguido ficar registado em obras de escritores portugueses como Mário de Carvalho. Nos meus tempos de escola, ainda se dizia, o que me faz sentir um bocadinho velha... e talvez mesmo um pouco "escanifobética" por tê-lo usado!