Ao longo da minha experiência de ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE), o conteúdo que mais desafios me tem colocado a mim, enquanto professora, e aos alunos é o ensino das preposições. A questão do uso das preposições é fundamental para uma comunicação correta e eficaz em português, contudo a sua utilização adequada levanta frequentemente problemas aos falantes não nativos desde os níveis iniciais de proficiência até aos mais avançados. Muitas vezes, no decurso das aulas, perguntam-me porque é correto dizer «chegar a casa» e não «chegar para casa»? A este propósito, a experiência indica-me que muitos dos problemas relacionados com o uso das preposições em PLE dizem respeito a casos especiais da sua aplicação.
As preposições são palavras invariáveis, isto é, não variam em género e em número. Constituem uma classe de palavras fechada e subordinam nomes, adjetivos, advérbios, pronomes e verbos. A sua principal função consiste em estabelecer uma relação sintática e semântica entre dois elementos de uma frase ou expressão. Isto significa, portanto, que as preposições relacionam um termo subordinante, que precede a preposição, com outro termo que funciona como complemento da preposição. Por exemplo, na frase «gosto de chocolates», o elemento subordinante é «gosto», que se relaciona com «chocolates» por intermédio da preposição "de"; o complemento desta preposição é «chocolate». A preposição e o seu complemento formam um sintagma preposicional — «de chocolates» —, sendo que, consoante a natureza do termo subordinante, o sintagma preposicional assume funções distintas na frase.
Quando o termo subordinante é um verbo, um adjetivo, um advérbio ou uma preposição, o sintagma preposicional é um complemento desse termo. Quando o termo subordinante é um nome, o sintagma pode ser um complemento do nome ou um modificador restritivo. A relação de dependência que existe entre o núcleo de um sintagma e os seus complementos é captada na gramática tradicional pela noção de regência, ou seja, o termo subordinante rege o sintagma preposicional.
Nem sempre as preposições têm valor semântico; em determinadas situações, a sua função básica e praticamente exclusiva consiste em servir de elo de ligação gramatical entre um regente e o seu complemento. Eduardo Raposo e Maria Francisca Xavier designam esta situação, na Gramática do Português (Fundação Calouste Gulbenkian)1 por gramaticalização. Noutras situações, uma preposição pode ter uma função gramatical, mas mantém algum grau de semanticidade, geralmente associada ao aspeto ou à modalidade, neste caso Eduardo Raposo e Maria Francisca Xavier1 consideram que a preposição se encontra semigramaticalizada.
As principais preposições do português têm um valor semântico básico de natureza espacial, introduzindo constituintes que denotam o lugar ocupado por uma entidade, ou do qual, ou para qual, esta se move. Estas preposições são também usadas no domínio do tempo e, por extensão metafórica, em áreas mais abstratas, como na representação de relações de posse ou na representação de estados físicos e mentais das pessoas. Nos manuais e programas de PLE, o ensino das preposições está muitas vezes ligado ao seu valor semântico, sendo a tendência para se começar por abordar as preposições de tempo e só depois as de movimento. No que concerne à relação de dependência entre a preposição e as palavras que subordinam, esta é discutida em níveis de aprendizagem intermédios, quando os alunos já possuem um conhecimento mediano do funcionamento da gramática da língua. Todavia, alguns usos das preposições em determinados contextos não são tão transparentes nem as suas regras tão claras, o que causa dificuldades no seu ensino e na sua aprendizagem.
No caso particular das preposições a e para, ambas são direcionais e marcam um constituinte com o valor de destino; no entanto, distinguem-se de um modo que recorda a diferença aspetual entre estados episódicos e estados permanentes, ou seja, a preposição a pode classificar-se como episódica e a preposição para como estável. A primeira usa-se para representar deslocações curtas a um lugar, que pressupõem um regresso mais ou menos rápido ao lugar de origem, ao passo que a segunda se usa para representar deslocações de duração mais extensa ou quando não há qualquer pressuposição de regresso rápido ao lugar de origem.
Então, porque é correto dizer «chegar a casa» e não «chegar para casa»? O caso do verbo chegar, em português, é particular, uma vez que este verbo combina a dimensão aspetual com um valor temporal e com um valor modal. Em português europeu, chegar seleciona sempre a preposição a, quando se pretende transmitir a ideia de destino, como na frase «chegar a casa». Isto significa, portanto, que o verbo chegar não admite o uso da preposição para quando transmite um valor de movimento. Contudo, situações como «chego para a semana» são aceites, visto que, nestes casos, a preposição para não tem um valor relacionado com o movimento, mas antes um valor temporal, localizando uma situação num intervalo futuro. Em PLE, é necessário chamar a atenção em sala de aula e realizar um reforço prático, visto que, para muitos aprendentes, nem sempre são compreensíveis e lógicos.
1. Raposo, E. & Xavier, M. (2013), Preposição e sintagma preposicional. In Raposo et al. (2013). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 1497-1540.