Nos últimos anos, tem-se verificado a entrada em Portugal de um grande número de estrangeiros, sendo uma parte significativa crianças e jovens em idade escolar que ingressam no sistema de ensino português. Segundo dados do Observatório das Migrações, no ano letivo 2020/2021, encontravam-se matriculados no ensino básico e secundário 71652 alunos de nacionalidade estrangeira, o que representou um crescimento de 5,3% face ao ano letivo anterior. Destes, 5492 encontravam-se matriculados na disciplina de Português como Língua Não Materna (PLNM), destacando-se como principal nacionalidade a nepalesa.
O Nepal é um país situado na vertente sul dos Himalaias e tem como países vizinhos a China e a índia. Infelizmente, para muitos portugueses, a cultura, os costumes e a situação linguística deste país são desconhecidos, o que faz com que, por vezes, a integração das crianças e jovens nepaleses no sistema educativo português seja desafiante. A língua oficial do Nepal é o nepali, um idioma que pertence ao grupo indo-iraniano e cujo sistema de escrita está próximo do utilizado no sânscrito, ou seja, o alfabeto usado pelos falantes desta língua é o devanágari. Portanto, um dos primeiros obstáculos que estes jovens alunos terão de ultrapassar será o de se familiarizar, caso ainda não tenha ocorrido, com o alfabeto latino e as regras ortográficas do português.
Outra grande diferença entre o nepali e o português relaciona-se com a existência de partículas aglutinantes designadas por posposições. Enquanto em português o elo de ligação entre diferentes constituintes da frase é feito sobretudo pelas preposições, em línguas como o nepali são usadas, ao invés, partículas que se colocam depois dos vocábulos (sufixos) e que marcam a função sintática da palavra. Isto poderá fazer com que o ensino das preposições do português a este grupo particular de estudantes seja um desafio, visto não existir este tipo de palavras na sua língua materna e a ligação gramatical entre constituintes se estabelecer não por preposições mas por sufixos. Consequentemente, este grupo de alunos poderá exigir um trabalho mais aprofundado das preposições em sala de aula de modo a que sejam adquiridas corretamente.
Contudo, em muitas escolas, na disciplina de PLNM não existe apenas uma nacionalidade representada e um grupo de alunos com uma só língua materna. Por norma, são grupos de diversas nacionalidades e com várias línguas maternas, algumas próximas do português e outras mais distantes. Isto exige que o professor seja capaz de atender a diferentes problemas que os alunos possam demonstrar na aprendizagem da língua portuguesa e que são resultado das interferências das suas línguas maternas. Note-se, por exemplo, que vários estudos sobre a aquisição e aprendizagem de línguas não maternas evidenciam a presença de estruturas na língua-alvo que são resultado de conhecimentos linguísticos prévios, nomeadamente da língua materna.
No fundo, para que um professor de PLNM consiga assegurar um ensino de qualidade e no qual proporcione um acompanhamento que permita esclarecer muitas das dúvidas dos seus alunos é necessário que, para além da atenção prestada aos modelos e materiais didáticas, se procure também conhecer um pouco o grupo de estudantes, nomeadamente, as suas culturas e línguas.