1. Muitos falantes de português – diz a descrição linguística sobretudo no Brasil – tendem a pronunciar certos encontros de consoantes, por exemplo, o pç de corrupção ou o bs de absurdo, inserindo um "i" ou um "e", com o resultado de tais palavras soarem como "abissurdo" e "corrupição". Esta vogal metediça, censurada pela norma-padrão, que a vê como "pronúncia viciosa", decorre de um fenómeno do funcionamento mais abstrato do português e torna-se, portanto, mais difícil de controlar, como sugere uma resposta da presente atualização. Outros caprichos da língua abordados no consultório: como justifico a colocação pós-nominal de mais em «muitas pessoas mais», quando noutros casos o advérbio figura antes do nome («escrevi mais um livro»)? Como se explica que a raiz da palavra pedra, que é pedr-, passe a petr-, quando ocorre no adjetivo pétreo? Como aceitar que porém possa ser, afinal, um advérbio? Blá-blá-blá e pá-pá-pá são palavras?
2. De caprichos também se tomam os gentílicos e os nomes geográficos. Dê-se o caso do nome pátrio de Estados Unidos da América: americano, norte-americano, estadunidense (ou estado-unidense)? A escolha não é apenas linguística, observa a linguista Ana Sousa Martins num texto lido na rubrica "Cronicando" do programa Páginas de Português, transmitido pela Antena 2, em 6/01/2019.
3. E que fazer dos deslizes com o verbo haver, o substantivo precariedade e o auxiliar modal dever? No Pelourinho, transcreve-se, com a devida vénia, um apontamento da revista Sábado 3/01/2019, a respeito de três tropeções do primeiro-ministro português António Costa no uso dos referidos vocábulos.
4. Foi em 2009 que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa começou a ser aplicado no Brasil, com obrigatoriedade legal a partir de 2016. A revista digital brasileira Nexo assinala os dez anos da sua entrada em vigor no país – em Portugal também no mesmo ano de 2009, em 13 de maio, de e em Cabo Verde em 2015 –, com um teste de conhecimentos sobre normas de acentuação e hifenização.
5. Registe-se, por último, mais um caso da abusiva intromissão do inglês na vida desportiva em Portugal. A Liga Portuguesa de Futebol chama Allianz Cup à competição patrocinada pela seguradora Allianz Portugal e, à final, Final Four. Porque não "Taça Allianz", ou "Taça da Liga", e "Final a quatro", ou, simplesmente, "finais" às meias-finais que se realizam em 22 e 23/01/2019 e à final propriamente dita, disputada em 26/01/2019? Casos como este, que são antigos, já têm sido comentados no Ciberdúvidas – aqui, por exemplo.