A inclusão de determinadas palavras na classe da conjunção nunca foi uma questão consensual, nem mesmo nas abordagens mais tradicionais. Por exemplo, Epifânio da Silva Dias na obra Grammatica portugueza elementar já apresentava uma abordagem crítica da classe das conjunções coordenativas, considerando, por exemplo, que a classe das conjunções adversativas integra apenas um elemento: mas (ed. de 1994, p. 119).
Nas gramáticas mais recentes, esta discussão mantém-se, sendo possível encontrar várias abordagens. Por exemplo, na gramática da autoria de Mira Mateus et al. (Gramática da Língua Portuguesa, Caminho, sbt. pp. 568-574) são apresentadas as propriedades formais que permitem distinguir uma conjunção de uma palavra pertencente a outra classe. Assim,
(i) a conjunção surge em posição inicial do constituinte coordenado, não podendo deslocar-se para o seu interior:
(1) «O João leu o livro e a Rita viu o filme.» / «*O João leu o livro, a Rita e viu o filme.» (e é uma conjunção)
(2) «O João leu o livro, porém a Rita viu o filme.» / «O João leu o livro, a Rita, porém, viu o filme.» (porém não é uma conjunção)
(ii) na mesma posição não podem surgir duas conjunções:
(3) «*O João leu o livro, e mas a Rita viu o filme.» (e e mas são conjunções)
(4) «O João leu o livro, mas, porém a Rita viu o filme.» (mas é uma conjunção; porém não é conjunção)
(iii) as conjunções coordenam constituintes oracionais e não oracionais:
(5) «O João leu o livro e a Rita viu o filme.» / «O João e a Rita viram o filme.» (e é conjunção)
(6) «Embora o João tenha lido o livro, a Rita, porém, viu o filme.» (porém não é conjunção, pois, nesta frase, não coordena nenhum constituinte.)
As razões apresentadas levam a que não sejam integrados na classe das conjunções elementos como por exemplo, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto, logo, pois, assim, por conseguinte, por consequência (cf. id. ib., p. 569), que são associados à classe dos advérbios.
Por razões semelhantes, Raposo considera a existência de apenas três subclasses de conjunções coordenativas: copulativas, disjuntivas e adversativas (cf. Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, pp.1786 – 1805).
Posição semelhante é assumida por Evanildo Bechara, que considera que pertencem à classe dos advérbios as palavras pois, logo, portanto, entretanto, contudo, todavia, não obstante (cf. Moderna gramática portuguesa. Nova Fronteira, pp. 270 – 271).
Relativamente às conjunções subordinativas, em Mira Mateus et al. defende-se a seguinte posição, que citamos:
«Olhando para a história da língua portuguesa constatamos que alguns conectores que hoje estão lexicalizados numa só palavra foram derivados, por reanálise, a partir de sintagmas preposicionais: em boa hora > embora, por que > porque. Este facto pode servir de argumento à tese de que a generalidade dos conectores de subordinação adverbial tem por base projecções de advérbios e de preposições, sendo eventualmente algumas dessas preposições ou alguns desses advérbios nulos. A gramaticalização pode ter sido tão radical que alguns desses conectores foram reanalisados como complementadores. É o que parece ter acontecido com embora, porque, sem que, se (condicional).» (ob. cit., p. 705).
Não assumindo uma perspetiva tão radical, Raposo e Bechara consideram a classe das conjunções subordinativas, embora não proponham as mesmas subclasses: (cf. Raposo, ob. cit., pp. 1981 – 2055 e Bechara, ob.cit., pp. 271 – 276).
Em suma, é possível identificar diversas abordagens que não seguem a classificação, dita tradicional, da classe das conjunções.
Por esta razão, na falta de total consenso relativamente a esta questão de classificação gramatical, terá o consulente de optar pela interpretação que lhe parecer mais justa em função dos critérios apresentados ou, no caso de ter de seguir um programa escolar, terá de aceitar a classificação aí proposta, pensando uma abordagem didática que seja adequada aos seus alunos.
Disponha sempre!
*assinala a agramaticalidade da frase.