1. Vai-se 2015, e, depois dos festejos do Ano Novo, o consultório retoma as suas atualizações semanais na segunda-feira, 4 de janeiro de 2016. Neste entrementes (para usar um arcaísmo, como que em homenagem ao ano velho), entram respostas que aguardavam divulgação e peças jornalísticas que abordam temas da atualidade à volta da língua portuguesa. Comecemos pelo consultório, no qual se propõe um breve comentário sobre a história do verbo calhar e se regista um uso que parece exclusivo do português do Brasil. Em O nosso idioma, um texto de Manuel Matos Monteiro questiona a anglicização que o avanço tecnológico comporta (ver Público de 27/12/2015); e, na mesma rubrica, inclui-se um apontamento que lista vocábulos característicos do falar carioca, aludindo à realização dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro. Finalmente, nas Lusofonias, um artigo de Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono, defende a validade da ideia de lusofonia (ver Público de 27/12/2015).
2. A propósito das notícias publicadas em Portugal sobre o caso do Banif, convém lembrar que o nome por que este banco português é conhecido resulta de um acrónimo, ou seja, uma redução baseada em iniciais e grupos gráficos do nome oficial – Banco Internacional do Funchal – que se lê como uma palavra – "bànife". Sobre a diferença entre acrónimo e sigla, consultar a resposta "A distinção entre siglas e acrónimos".
3. Com interesse para as culturas de língua portuguesa, registem-se ainda:
– o trabalho que a agência Lusa dedicou à situação (precária) do crioulo português de Malaca (ler aqui).
– a entrevista que o músico e escritor Mário Lúcio, galardoado em 2015 com o Prémio Miguel Torga pelo livro Biografia do Língua, concedeu ao jornal Público (de 27/12/2015) e na qual o também ministro da Cultura de Cabo Verde evoca, com alguma ironia, o impacto da linguagem publicitária nas suas aprendizagens: «Aprendi a ler graças à importação das latas de banha e de azeite de Portugal. [...] Inventava muito o ler quando ainda não sabia ler. E às vezes acertava. É muito engraçado. Também hoje me pergunto como é que copiava Vaqueiro, V, A, Q, U, E, I, R, O, e como é que sabia que era vaqueiro. Essa frase sempre me perseguiu, era muito criança e repetia: “Vaqueiro torna tudo mais apetitoso.” Ou a lata de banha, “Braço Forte, Lda.” Ou: “Azeite Galo.” Copiávamos tudo o que havia. Isso tudo no chão de terra batida. E líamos. Ali nasceu a escrita.»
4. O incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, foi um dos desastres de 2015. E acerca do que já se projeta para o reerguer, o programa Língua de Todos de sexta-feira, 1 de janeiro (às 13h15* na RDP África; com repetição no sábado, 2 de janeiro, depois do noticiário das 9h00*) entrevista António Carlos Sartini, diretor desse lugar único, inaugurado em 2006. No Páginas de Português de domingo, 3 de janeiro (às 17h00*, na Antena 2), em conversa com o professor José de Sousa Teixeira, do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho, fala-se de provérbios e frases feitas: o que são, para que servem, qual a sua importância para a língua portuguesa, a utilização que têm na literatura, na publicidade, na política... Alguns exemplos: «presunção e água benta, cada qual toma a que quer», «quem não se sente não é filho de boa gente», «ensinar o padre-nosso ao vigário», «quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele», «essa é que é essa», «tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica à porta», «não há fogo sem fumo», «grão a grão enche a galinha o papo».
* Hora oficial de Portugal continental.