Variantes Cariocas da Língua Portuguesa (Vol. I, de A a F, e Vol. II, de G a Z), pretende, segundo o autor, constituir um «veículo de aproximação linguística entre Portugal e o Brasil». António Correia de Pinho apresenta um amplo glossário com cerca de 5000 entradas recolhidas pelo próprio aquando da sua estadia no Rio de Janeiro. O registo das expressões vernáculas contidas nestes dois volumes foi levado a cabo junto da população do Rio de Janeiro, a «fonte» como o autor refere, e também por intermédio dos meios de comunicação social cariocas, designadamente a televisão, a imprensa escrita e a rádio, todas com frases ilustrativas, contextualizadas e devidamente atribuídas. É o caso, entre tantos e tantos outros, da expressão aquecer as turbinas: «À sexta-feira a turma vai aquecer as turbinas nos botequins do Rio», ou seja, em gíria portuguesa, «vai beber uns copos».
Algumas das entradas, estranhas à variante europeia do português, despertarão com certeza a curiosidade do leitor. Veja-se, a título de exemplo, as entradas das palavras cocoréu (briga/conflito), despencar (fugir), espichar (esticar, alongar), flozô (luxo), passaralho (dispensa ou demissão numerosa de empregados) ou suruba (confusão, mistura). Entre as expressões idiomáticas que o viajante poderá ouvir numa deslocação ao Rio encontramos «dar uma de detetive português» (equivalente à popular expressão portuguesa «armar-se em carapau de corrida»), «fazer o melhor feijão com arroz» (literalmente, procurar fazer o melhor possível com poucos recursos) e olhar de mel-de-abelha (olha doce, dengoso). Ou, ainda, à volta da palavra bicho: bicho-solto (valentão), bicho vai pegar (vai haver confusão, vai haver barraca), virar bicho (ficar furioso, enfurecer-se).
Variantes Cariocas da Língua portuguesa, não obstante as suas perto de 1500 páginas no conjunto dos dois volumes, constitui uma leitura fácil e bem agradável de uma temática tão rica e variada como esta, que beneficia ainda de um interessante conjunto de ilustrações, gravuras antigas e fotografias da autoria do próprio António Correia de Pinho.
Dele é ainda o elaborado preâmbulo da obra, em que analisa com especial minúcia as componentes históricas, sociais e gramaticais concernentes às variantes cariocas – capítulo enriquecido as diferenças linguísticas no Brasil e em Portugal, antes e depois do Acordo Ortográfico de 1990 (da acentuação, à fonética, à sintaxe, ao léxico e, inclusive, aos estrangeirismos por regra logo devidamente aportuguesados).
Registem-se, ainda os dois prefácios assinados pelo engenheiro de Petróleos António Costa e Silva e pelo também geólogo Britaldo Rodrigues, tal como o autor – o primeiro mais na perspetiva da temática da obra e da sua qualidade literária, e o segundo incidindo no relevante currículo profissional de António Correia de Pinho.
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