1. A (desgraçada) atualidade dos assassínios resultantes de violência doméstica trouxe à ribalta a palavra feminicídio (aqui e aqui), que, seis anos depois da nossa última resposta, tem finalmente registo dicionarístico nos dicionários em linha Houaiss e Priberam... averbando uma terrível realidade que, em Portugal, se associa a números monstruosos: nove mulheres mortas desde o início do ano, 503 entre 2004 e final de 2018 (notícias e comentários aqui, aqui, aqui e aqui, por exemplo).
O dicionário Priberam prevê ainda a palavra femicídio como variante de feminicídio. Há também quem proponha o termo generocídio (cd. Wikipédia) que, todavia, é considerado mais ambíguo.
Ricardo Araújo Pereira, conhecido humorista português, citou o esclarecimento do Ciberdúvidas a propósito da legitimidade da palavra feminicídio, no programa Governo Sombra (de 8/02) em que participa como comentador. Na resposta citada, Carlos Rocha, coordenador executivo do Ciberdúvidas, atestava o processo de formação da palavra, que é similar ao de outros compostos morfológicos (como filicídio ou homicídio).
2. Na nova atualização do consultório continuam a surgir questões relacionadas com palavras ainda por dicionarizar. É o caso do verbo redenominar. Também nesta linha, uma questão sobre a licitude da expressão «dicotomia de estatutos». Os usos da língua motivam ainda questões relacionadas com as classes de pertença de palavras como a na frase «A minha casa é bonita, mas a tua é mais» e deles em «O livro é deles.». Por fim, uma questão sobre a concordância do verbo ser em «Aprender inglês não são fake news.»
3. Na atualidade de interesse para a língua, destacamos:
— A divulgação da palavra do ano 2018 em Angola, que este ano é esperança, palavra que dá voz ao sentimento que o povo angolano deposita nas melhorias de condições do país. A palavra selecionada, numa iniciativa da Plural Editores, foi escolhida entre autarquias, câmbio, cidadania, investimento, justiça, melhorar, mudança, repatriamento e resgate – vindo na sequência do que, no âmbito de igual iniciativa, já fora apurado para Portugal e para Moçambique;
— A notícia do reforço da coordenação do ensino da língua portuguesa em França e nos Estados Unidos, uma medida importante para a continuação da promoção do ensino da nossa língua no estrangeiro, divulgada pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro.
4. Uma nota final para lembrarmos que o serviço prestado pelo Ciberdúvidas a todos quantos, por esse mundo fora, querem saber mais sobre a língua portuguesa – gracioso, de acesso universal e sem fins comerciais, como é próprio de qualquer serviço público – não dispensa a devida atribuição da autoria e da proveniência dos seus conteúdos, sempre que eles sejam compartilhados de qualquer forma. São preceitos éticos e legais* que cumprimos igualmente na transcrição de qualquer texto não original do Ciberdúvidas – sejam eles meras notícias ou a reprodução de artigos alheios de justificada atualidade. Infelizmente, este é um procedimento não acautelado por todos, especialmente por via de alguns sítios eletrónicos e plataformas na Internet. Trata-se, pura e simplesmente, de uma condenável prática do plágio – de que mais recentemente foi vítima a nossa consultora Sandra Duarte Tavares, com material apropriado de um artigo seu publicado na edição digital da revista Visão, do dia 27/07/2017, intitulado 10 erros linguísticos que mancham a sua imagem, sem que tenha havido lugar à devida atribuição da autora e da publicação original.
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