1. O contacto do português com outras línguas tem sempre novos desafios: por um lado, a pressão do inglês exige-lhe a alternativa de soluções vernáculas; por outro, é necessário conciliá-lo com o contexto bilingue ou multilingue dos países onde tem estatuto oficial – como acontece em Angola. Por exemplo, ocorre perguntar como se combina numa mesma sigla as iniciais de palavras portuguesas com um nome formado em cuanhama, uma das línguas bantas faladas em território angolano. É este um dos tópicos em foco na atualização do consultório, onde outras dúvidas pedem respostas: que significam bera , ressecar e transecto? Qual o plural de meia-maratona e de afetivo-sexual? Que sentido têm as formas verbais do futuro numa frase interrogativa? E como usar o verbo tratar-se em referência a um tema ou assunto?
2. Em comparação com outros países, Portugal tem conservado certos critérios para o registo do nome de um recém-nascido. Mas há sinais de mudança nesta situação, conforme se dá conta num trabalho da autoria da jornalista Marta Martins Silva e publicado no jornal Correio da Manhã de 9/10/2016 com o título "Mas como é que te vou chamar?", disponível também na rubrica O nosso idioma (com os devidos agradecimentos à autora e ao matutino português).
3. A contar para o Mundial 2018 de futebol, a seleção de Portugal joga neste dia nas ilhas... "Faroe", "Faroé", "Feroé", ou "Féroe"? O nome tem conhecido variantes em Portugal1, pelo menos desde os anos 60 do século passado: Rebelo Gonçalves, no seu Vocabulário da Língua Portuguesa (1966), fixou a forma Féroe, que foi também adotada por José Pedro Machado, no Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, publicado em 1981 (ler respostas aqui e aqui). Contudo, mais recentemente, o vocabulário ortográfico da Porto Editora (versão impressa, de 2009) consigna Faroé e Ilhas Faroé2, grafias que também acolhe o Código de Redação Interinstitucional do português na União Europeia. Em suma, atualmente existem duas formas corretas em Portugal: uma mais antiga, Féroe, e outra mais recente, Faroé2.
1 No Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP-ABL) não se registam nomes geográficos, mas a entrada faroense parece remeter para a forma Faroe, conforme grafa o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (1.ª edição brasileira, 2011) na definição que dá do referido gentílico: «faroense relativo às ilhas de Faroe, no oceano Atlântico, ao norte do Reino Unido, ou o que é seu natural ou habitante».
Atualização (11/10/2016) – Faltou assinalar que o Vocabulário Onomástico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras apresenta a forma Feroé (informação do consultor Luciano Eduardo de Oliveira), à qual corresponde o gentílico feroês, que o VOLP-ABL também acolhe. O Dicionário Houaiss tem igualmente feroês e feroico, cuja definição os relaciona surpreendentemente não com Faroe, mas com a forma Féroe, que ocorre na expressão «ilhas Féroes».
2 É discutível o uso de maiúscula inicial também em ilhas, porque não é esta forma parte essencial do uso de Feroé ou Faroé: pode dizer-se ou escrever-se as «ilhas Féroe/Faroé», ou simplesmente «as Féroe/Faroé», ao contrário de Ilhas Britânicas, que não permitem a redução «as Britânicas».
3 Saliente-se que o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa dá conta das variantes apontadas, quando regista os gentílicos faraonse, faroês, feroês e feroico como «relativo ou pertencente ao arquipélago Faroé ou Féroe, território da Dinamarca» (sublinhado nosso).