– As notícias dão relevo à intenção de Donald Trump, presidente recém-eleito dos EUA, de retirar este país do Acordo Transpacífico, também conhecido como «parceria transpacífica» – em inglês, Trans-Pacific Partnership. É de notar a grafia transpacífico: em português, pacífico também denota o que é relativo ou pertencente ao oceano Pacífico, tal como atlântico se reporta ao (oceano) Atlântico; e, ainda que a expressão inglesa apresente Trans-Pacific, nem sequer é preciso hífen com o prefixo trans-, que se agrega à palavra que modifica, como acontece em transatlântico. Finalmente, porque se fala de uma situação e de um documento bem individualizados, impõem-se as maiúsculas iniciais: escreva-se, portanto, Acordo Transpacífico2.
1 Agradecemos a José Pedro Ferreira (JPF), investigador do CELGA-ILTEC, o parecer em que se fundam estas considerações e do qual se relevam os pontos essenciais: I. A forma transpacífico tem uma base adjetival, não nominal, como sucede com todas as outras estruturas análogas: cisplatino (e não "cis-Plata"), transalpino (e não "trans-Alpes"), intraeuropeu, etc. II. O adjetivo pacífico, «relativo ao Oceano Pacífico», e o nome próprio Pacífico, «nome de oceano», são palavras homónimas. O sentido gentilício de pacífico (adjetivo) é registado na generalidade dos dicionários (excetua-se o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa). Acrescenta JPF: «O mesmo acontece, de resto, com a forma atlântico (adejtivo), também homónima do nome próprio a que diz respeito, mas decerto de uso mais frequente com este sentido de gentílico de Atlântico, (nome próprio) nos países de língua portuguesa.» Reforçam esta análise o Vocabulário Ortográfico do Português, que apresenta a forma circumpacífico, bem como o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras e o Dicionário Caldas Aulete, onde já figura transpacífico.
2 No espanhol, a solução encontrada é muito semelhante. A Fundéu-BBVA propõe que Acuerdo Transpacífico seja o equivalente espanhol de Trans-Pacific Partnership, cuja denominação completa em inglês é Trans-Pacific Strategic Economic Partnership. Entre os países hispano-americanos signatários deste tratado, é o mesmo que Acuerdo Transpacífico de Cooperación Económica ou Acuerdo de Asociación Transpacífico – ou melhor, em português, «Acordo Transpacífico de Cooperação Económica» ou «Acordo de Associação Transpacífico».
– Na rubrica Acordo Ortográfico (área Critérios a rever – propostas e sugestões), deixa-se um novo contributo de D'Silvas Filho, autor de Prontuário Universal – Erros Corrigidos de Português e também consultor do Ciberdúvidas, para o debate da ortografia. Trata-se do documento Vocabulário do autor para o AO90, destinado ao português europeu, texto em que D'Silvas apresenta um conjunto de regras para a escolha de vocábulos, de modo a «defender o português europeu, tão maltratado nos atuais vocabulários portugueses», sugerir «aperfeiçoamentos no AO90, mas sem o recusar liminarmente» e «esclarecer devidamente os seus pontos dúbios».
– Engana-se quem traduz os «London bombings» de 7 de julho de 2005 por «bombardeamentos de Londres». A rubrica O nosso idioma passa a incluir um trabalho publicado em 16/5/2016 no jornal digital Observador sobre as muitas armadilhas semânticas dos chamados «falsos amigos» que o português encontra no inglês.
– O mote dos anglicismos continua no consultório: em Portugal, para falar da peça de roupa que os brasileiros chamam camiseta, diz-se e escreve-se t-shirt. Mas, já que há tanto gosto pelo inglês, não seria mais correto escrever T-shirt, como se regista no prestigiado Oxford English Dictionary? Mais questões: há diferença entre plaquetário e plaquetar? Como usar «e tal» com um numeral? Que sinónimos tem a locução preposicional «em meio a»? «Melhor do que» e «melhor que»: o que é correto?
– Sobre os programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa,:
♦ Com o apoio do Instituto Camões e a colaboração de outras importantes organizações, bem como a de numerosos especialistas da área, acaba de ser publicado O Novo Atlas da Língua Portuguesa, trabalho recentra e projeta a problemática e o desenvolvimento da língua comum. O Língua de Todos de sexta-feira, 25 de novembro (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 26 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), conversou com José Paulo Esperança, professor catedrático no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e um dos colaboradores da obra, recentemente apresentada na capital portuguesa.
♦ «Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto. Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação» – é uma citação de Vergílio Ferreira que abre o Novo Atlas da Língua Portuguesa. O Páginas de Português de domingo, 27 de novembro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), entrevista Luís Antero Reto, reitor do ISCTE-IUL e coordenador deste novo livro.
* Hora oficial de Portugal continental.