1. Não é nova a tendência de o adjetivo dramático ocorrer no sentido de «drástico», «espetacular», «repentino», refletindo a interferência ou a má tradução do inglês dramatic. Os exemplos são abundantes: «subida dramática», «descida dramática», «aumento dramático», «abrandamento dramático», «redução dramática». Recorde-se que o adjetivo em causa se aplica genericamente ao que é próprio do drama, como género literário, ou ao que emociona fortemente; portanto, não se associa tradicionalmente aos substantivos indicados, pelo que é preferível dizer-se ou escrever-se «subida acentuada», «descida abrupta», «aumento espetacular», «abrandamento notável», ou «redução drástica».
* A interferência do inglês dramatic também se acusa noutras línguas românicas (ou seja, da mesma subfamília que o português), por exemplo, no espanhol e no francês, idiomas em que dramático e dramatique têm aceções muito semelhantes às do português dramático. Consultem-se a Fundéu BBVA e o Office Québécois de la Langue Française.
2. Acerca de modismos, aqui fica uma série de neologismos e alterações semânticas ou morfológicas que o estilo mediático reiteradamente evidencia: bombástico e brutal, no sentido de «espetacular», «grandioso»; contabilizar, que parece querer substituir o simples e direto enumerar; deletar, em vez de apagar; desde, para exprimir lugar de origem («"desde" Lisboa», em vez «de Lisboa», ou «a partir de Lisboa»); a afetação de expectante e espectável; focalizar, quando se quer dizer «concentrar»; o uso de impactante; o castelhanismo ilusão, que quer acabar com esperança; o performativo, de cepa anglo-saxónica; prestação, quando se pretende falar de uma exibição, atuação ou desempenho; a locução «ser suposto», sobretudo empregada pessoalmente («ele foi suposto...»); submeter, na aceção de «entregar»; e, finalmente, o mecânico alavancar, recorrente no futebolês. Mais exemplos, no artigo "Já se focalizou no português que anda a falar?" e na abertura "A novilíngua da imprensa". O tema é também tratado em páginas eletrónicas do Brasil, como Mundo Educação, ou Exame.com (aqui e aqui).
3. Quem fala de moda fala de compras, por exemplo, neste dia de 2016, última sexta-feira do mês de novembro, que a moda do inglês e da cultura associada apelida de Black Friday, isto é, Sexta-feira Negra. É denominação de um dia especial, em que o comércio faz grandes promoções para gáudio dos consumidores; então, porquê "negra"? O Online Etymology Dictionary dá uma explicação que se pode traduzir assim: «Black Friday [usa-se] como nome do movimentado dia de compras que se segue à celebração do Dia de Ação de Graças nos EUA. Diz-se que a expressão data dos anos 60 e talvez tenha sido cunhada não pelos comerciantes, mas por quem tinha a função de controlar as multidões; antes, aplicava-se principalmente às sextas-feiras que registaram quedas dos mercados financeiros (1866, 1869, 1873).»
4. Ainda a propósito de atualidades que tenham o português como tema, são de assinalar:
– a criação em 23 de novembro p. p. de uma cátedra na Universidade de Goa com vista a promover a investigação linguística do português e das suas relações com as línguas asiáticas, em especial, as indianas;
– a publicação de O Mundo do Português e o Português no Mundo afora: Especificidades, Implicações e Ações (Pontes Editores, Campinas, São Paulo), um volume de estudos coordenado por Maria Luisa Álvarez Ortiz Luis e Gonçalves, no qual se salienta um artigo do professor e linguista Gilvan Müller de Oliveira (antigo diretor executivo do IILP), com o título "O sistema de normas e a evolução demolinguística da língua portuguesa" (consulte-se aqui) – ver também apresentação do livro na Montra de Livros;
– um novo guia para o uso da língua, da autoria do conhecido gramático e académico brasileiro Evanildo Bechara: trata-se do Novo Dicionário de Dúvidas da Língua Portuguesa, cuja apresentação se pode consultar na Montra de Livros.
5. No consultório, os tópicos abordados dizem respeito às orações condicionais, à locução «em frente a» e à diferença entre temporão e serôdio.
6. Quanto aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas para a rádio pública portuguesa, o grande tema é a publicação do O Novo Atlas da Língua Portuguesa, com o apoio do Instituto Camões e de outras organizações. No Língua de Todos de sexta-feira, 25 de novembro (às 13h15*, na RDP África (com repetição no sábado, 26 de novembro, depois do noticiário das 9h00*), José Paulo Esperança, professor catedrático no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), fala deste novo livro, em que também colaborou. No Páginas de Português de domingo, 27 de novembro (na Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte, às 15h30*), entrevista Luís Antero Reto, reitor do ISCTE-IUL e coordenador da obra em foco.
* Hora oficial de Portugal continental.