1. Da República Checa* chegam notícias de um interesse crescente pela aprendizagem do português, associado à retoma ou à criação de laços com os Estados da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). É neste contexto que, em 31 de maio p. p., em Praga, o Ministério dos Negócios Estrangeiros checo organizou o seminário diplomático A República Checa e o mundo lusófono – passado, presente e futuro (em checo, Česká republika a lusofonní svět – minulost, současnost a budoucnost). Dois meses antes, em março do presente ano, a República Checa solicitara a participação como observador na CPLP, pedido que Ivan Jančárek, vice-assistente para colaboração extraeuropeia do referido ministério, justifica pela importância de a República Checa «[...] expandir contactos, sobretudo fora da Europa» e pelo facto de «a CPLP, como uma das grandes organizações regionais que de facto se agrupam ao redor de uma língua, [ser] para [os checos] uma das possibilidades de estabelecer contactos comerciais, económicos e políticos, porque o português no futuro terá um papel ainda maior» (fonte: jornal checo Lidové noviny; ver tradução integral na rubrica Notícias).
* Em abril de 2016, o governo checo aprovou a adoção oficial da forma curta Česko, a par de Česká republika, ou seja, República Checa. A forma portuguesa correspondente a Česko é Chéquia, mas esta ainda não tem uso firmado. Lembramos que a atual República Checa integra territórios tradicionalmente conhecidos em português pelos nomes Boémia e Morávia. Uma pequena região a norte, na fronteira com a Polónia, faz parte de uma unidade regional transfronteiriça que tem também denominação portuguesa: Silésia.
Cf.: Chéquia e o sururu toponímico da atualidade + Quem inventou o nome «Chéquia»?
2. O exemplo checo aumenta ainda mais a perplexidade com que se olha para a Guiné Equatorial: dois anos após a sua entrada na CPLP**, continua a não apresentar, sequer, uma versão em português da sua página eletrónica governamental – apenas disponível em espanhol, em francês e... em inglês. E muito menos integrou ainda a língua portuguesa no seu sistema de ensino, uma das condições da sua polémica adesão como Estado-membro de pleno direito na CPLP. Um incumprimento que justificou inclusive um reparo do Conselho Científico do Instituto Internacional da Língua Portuguesa como se pode ler*** no ponto 13 do comunicado final sobre a reunião realizada nos dias 9, 10 e 11 de maio de 2016, na cidade da Praia, em Cabo Verde, sem a presença de qualquer representante guinéu-equatoriano.
** A respeito da situação do português dentro da CPLP, anote-se a crítica de Guilherme d'Oliveira Martins, presidente do Centro Nacional de Cultura e administrador-executivo da Fundação Calouste Gulbenkian: «A CPLP é uma instituição muito interessante, [...] [mas] está claramente aquém das suas potencialidades e responsabilidades [na defesa da língua portuguesa]» (fonte: Público, 15/05/2016).
*** «[Cumpre salientar a] ausência (...), sobretudo, da Guiné Equatorial, que se insta a uma maior participação e ação com vista à consolidação do uso da língua portuguesa para a sua efetiva integração na CPLP».
Cf. Sem Ano-Bom, a Guiné Equatorial não tem nenhum vínculo com a CPLP
3. Entre a Galiza e a chamada lusofonia existem fortes vínculos, mas a promoção da língua portuguesa nessa região de Espanha continua a não ser fácil, pelas muitas e delicadas questões que envolve. Notícias recentes dão conta do fraco impacto da iniciativa Valentín Paz-Andrade, aprovada em 2014 pelo parlamento autonómico, visando incentivar a presença do português na sociedade galega. Na rubrica Controvérsias, disponibiliza-se um texto polémico publicado no jornal Público em 2/06/2016, no qual o seu autor, Renato Epifânio, presidente do Movimento Internacional Lusófono, acusa o governo galego de não mostrar vontade de dinamizar o projeto. Ainda nas Controvérsias, um apontamento de Isabel Casanova retoma a (difícil) distinção entre demais e «de mais».
4. No consultório, faz-se uma viagem até à costa balcânica do Adriático, mais exatamente, ao Montenegro, a propósito de um topónimo cuja forma portuguesa caiu em desuso – Rossiona –, para depois se comentar a expressão «de um dia para (o) outro» e rematar com a definição de termos que designam géneros literários (tragédia, comédia, epopeia).
5. Relativamente aos programas produzidos pelo Ciberdúvidas na rádio pública portuguesa, lembramos que, no Língua de Todos de sexta-feira, 3 de junho (às 13h15*, na RDP África; com repetição no sábado, 4 de junho, depois do noticiário das 9h00*), o tema em foco são os aumentativos, enquanto no Páginas de Português de domingo, 5 de junho (Antena 2, às 12h30*, com repetição no sábado seguinte às 15h30*), se dá relevo às variedades africanas do português, com uma conversa com Ungulani Ba Ka Khosa, secretário-geral da Associação de Escritores Moçambicanos e um dos mais destacados prosadores do país do Índico.
* Hora de Portugal continental.
6. A campanha SOS Ciberdúvidas visa garantir meios para o funcionamento gracioso e sem fins comerciais do serviço aqui prestado há quase 20 anos. Agradecemos, pois, os contributos de quem, onde quer que ela se fale e seja acarinhada, não dispensa a consulta regular deste espaço de esclarecimento, informação, reflexão e debate sobre a língua portuguesa.