O conceito de anáfora, em linguística, designa, de forma simplista, o recurso à pronominalização como repetição de uma palavra, como em:
– Tens visto o João?
– Vi-o ontem.
O pronome pessoal o é um complemento directo anafórico, pois não se trata do nome, mas sim de uma (outra) representação desse nome, apenas compreensível porque o nome também surge, ainda que noutro local.
Outra característica da anáfora é o facto de aparecer sempre numa posição posterior à ocorrência do nome. No exemplo acima, primeiro ocorre o nome (e seu determinante) «o João», e só depois aparece o pronome. A língua permite, porém, que o pronome ocorra antes da ocorrência do nome. Nesse caso estamos perante uma catáfora, como no exemplo seguinte:
Embora ainda não o tenha visto, sei que o João já chegou.
Os pronomes pessoais mantêm marcas evidentes de caso. Referindo apenas a terceira pessoa, temos: nominativo – ele, ela, eles, elas; acusativo – o, a, os as; dativo – lhe, lhes. Apresentam ainda equivalência ao caso ablativo ou dativo, se vierem antecedidos de uma preposição (com ele – ablativo); (para ele – dativo). Assim, teoricamente, o pronome ele, isolado, tem sempre o valor nominativo, se lhe atribuirmos caso.
Acontece, porém, que, no Brasil, o pronome pessoal parece estar a perder, na terceira pessoa, a variação explícita – ou seja, a representação gráfica diferenciada – de caso acusativo, sendo ele utilizado, indistintamente, em posição de sujeito (Ele viu a Maria) ou em posição tradicionalmente ocupada por um acusativo (A Maria viu ele, em vez de A Maria viu-o). Assim, se mantivermos a designação de nominativo para indicar o sujeito e a de acusativo para referir o acusativo, então ele será acusativo sempre que sintacticamente lhe seja atribuída a função de complemento directo.
Clítico é a designação que se dá, habitualmente, aos pronomes pessoais átonos (sem acentuação própria), ou seja, aos que assumem a função de complemento directo, com forma explícita de acusativo, ou de complemento indirecto (me, te, o, a, nos, vos, lhe). Note-se que no caso de se utilizar o pronome ele em posição de complemento directo, este pronome não é um clítico, pois tem acentuação autónoma.