As figuras de linguagem (como diz) são inúmeras e também se chamam figuras de estilo ou de retórica. Podem subdividir-se em figuras de construção, de pensamento e de natureza semântica. Vou assinalar-lhe as mais conhecidas.
Entre as de construção, a anáfora (ou repetição) é a retoma da mesma palavra numa frase ou no seu começo, como neste decassílabo de Bocage: Vê qual sou, vê qual és, vê que dif’rença. O pleonasmo consiste na utilização de dois termos, um dos quais é supérfluo: Descer para baixo. O hipérbato recorre à ordem inversa para evidenciar um elemento da frase ou servir exigências poéticas, substituindo a ordem lógica pela estética: Ó Neptuno, lhe disse, não te espantes/De Baco nos teus reinos receberes («Os Lusíadas»,VI, 15). A anástrofe resulta da inobservância da ordem directa por causa da anteposição de um complemento, ou da deslocação de uma palavra: Alma minha gentil que te partiste. A silepse é uma irregularidade sintáctica aparente, um caso de «concordância ideológica». A gente está muito bonitos hoje! Pobre deste povo!... Vão ficar sem lar!
Nas figuras de pensamento aponto a parábola: confronta dois factos ou objectos, mas a relação comparativa é remota e conduz a uma conclusão doutrinária; são famosas as de Jesus Cristo, constantes dos Evangelhos. A antítese é uma seriação de pensamentos opostos e contraditórios; num soneto, Bocage diz acerca dos seus versos: Se os ditosos vos lerem sem ternura,/Ler-vos-ão com ternura os desgraçados. Na hipérbole há exagero nos termos empregados para insistir numa ideia: Tinha tanta sede que era capaz de beber toda a água do lago. A prosopopeia vem a ser a acção de fazer falar um morto ou um inanimado: Ela disse-me: «Sou o impassível teatro/Que não pode fazer mexer o pé dos seus actores.»
E, para terminar, alguns tropos ou figuras de natureza semântica. A metáfora é o fenómeno pelo qual uma palavra se emprega por semelhança real ou imaginária: os dentes do pente; o fumo da glória; o pé da mesa. A sinédoque consiste no emprego de uma palavra em lugar de outra na qual está compreendida, com a qual tem íntima conexão: pão, por alimento; vela, por navio; ferro, por espada ou âncora. A metonímia é simples variante da sinédoque; nela a palavra é empregada em lugar de outra que a sugere: louro, por glória, prémio; cãs, por velhice; Fulano é um bom garfo; perna, que era só a de porco, é hoje de todos os animais.
Antonomásia é a substituição de um termo por meio da qual se emprega um nome próprio por um comum e vice-versa: um hércules; também nomeia uma pessoa por intermédio de uma acção por ela praticada: o descobridor do Brasil (em vez de Pedro Álvares Cabral). O eufemismo é a adocicação dos termos; em vez do vocábulo próprio, emprega-se outro mais brando: passamento, em lugar de morte.
E aqui tem uma amostra do que pretende saber, pois não me posso alongar mais, como deve compreender.
N.E. – Sobre este tema, veja-se a seguinte explicação no sítio Figura de Línguagem, da responsabilidade do professor brasileiro Diego Nava: