DÚVIDAS

Legendagem em português do Brasil

Vou expor a seguinte situação:

Numa análise a um videojogo, foi feita uma crítica depreciativa, que teve impacto negativo na nota final do mesmo, em relação à legendagem apresentada. Quem escreveu a análise é português e fê-lo para uma publicação portuguesa.

Devido a o lançamento do jogo ter sido mundial, o jogo apresenta legendas em diversas línguas, incluindo o português do Brasil, visto que a produtora quis fazer essa localização devido ao grande mercado brasileiro. Ou seja, o jogo não tem legendas em português do Brasil a pensar em Portugal. Tem, porque o lançamento do jogo foi mundial, e é possível ao jogador seleccionar a língua das legendas que se quiser.

Eu pergunto se é boa prática, numa análise para portugueses, ser referido como aspecto negativo as legendas em português do Brasil, que a produtora pensou em disponibilizar para o mercado brasileiro. Isto está a levantar muitas dúvidas na blogosfera relacionada com videojogos, devido à questão do português de Portugal e do português do Brasil. Até que ponto em Portugal, só porque temos acesso à legendagem em português do Brasil, se pode depreciar algo, neste caso um videojogo?

Resposta

Como saberá, a língua portuguesa tem duas ortografias oficiais: para o português do Brasil e para o português europeu (seguido — até quando? — pelos países africanos de língua oficial portuguesa e Timor-Leste).

Devido a essa realidade, nós aqui no Ciberdúvidas damos por isso a possibilidade da selecção automática da norma ortográfica pretendida (em PE|PB no canto superior direito da página), conforme a opção de quem nos consulta.

É o que devia ter acontecido, também, com o referido videojogo — a exemplo, aliás, do que acontece já com mil e um produtos comercializados à partida numa ou noutra norma ortográfica. Na Internet são inúmeros esses casos, assim como no mercado livreiro português. O mais recente foi o excelente Dicionário Houaiss de Sinónimos e Antónimos (ed. Temas e Debates), antes disponível só em edição brasileira.

A verdade é que o critério prevalecente é mesmo a chamada lógica do mercado: para a produtora desse videojogo, 200 milhões de brasileiros contam muitíssimo mais do que o acanhado mercado de Portugal...

Tivesse já sido concretizado o Acordo Ortográfico, e  nada disto se colocava. Ou seja, a língua portuguesa teria o mesmo registo escrito em Portugal, no Brasil ou nos restantes seis países lusófonos. E deixaria também de haver essa permanente discrepância ortográfica nos areópagos internacionais mais variados, neles incluídos os leitorados e no ensino do português por esse mundo fora.

Com os custos — se me é permitida esta opinião pessoal — que se agudizarão cada vez mais do ponto vista geolinguístico, essa vertente tão decisiva nos tempos que correm. Pelo menos, para os países que não hipotecam a sua língua ao rolo compressor da globalização anglófona.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa