A origem da expressão «ao deus-dará»1 (ao abandono, ao acaso, à toa, à aventura; estar entregue à própria sorte) é controversa. Ou melhor: tem duas explicações, conforme o lado de cá ou de lá do Atlântico.
Para Guilherme Augusto Simões2 (in Dicionário de Expressões Populares Portuguesas, ed. Perspectivas & Realidades, Lisboa) a frase tem a seguinte explicação:
«(...) ao pedido de esmola que os mendigos antigamente faziam – "Uma esmolinha, por amor de Deus" –, obtinham a resposta, daqueles que nada queriam dar, "Deus dará", e assim quem andava a mendigar andava ao "Deus dará"».
Para Reinaldo Pimenta (in A Casa da Maria Joana (curiosidades nas origens das palavras, frases e marcas), 1.º vol., Editora Campus, Rio de Janeiro), «ao deus-dará» terá tido origem no Brasil, no século XVII, no Recife mais propriamente, ainda sob o domínio da coroa portuguesa:
«Vivia [aí] um comerciante chamado Manuel Álvares, que ajudava os soldados que a Fazenda Real deixava abastecer. Quando ele não dispunha das mercadorias necessárias, dizia sempre "Deus dará!". De tanto repetir a frase, ficou conhecido como Manuel Álvares Deus Dará. E os soldados, quando precisavam de recorrer a ele, diziam: "Vamos ao Deus Dará." O "sobrenome" acabou até passando para os descendentes do comerciante: um dos filhos, provedor-mor da Fazenda, Simão Álvares Deus Dará.»
1 Com hífen, como parece ser o correcto, ou sem hífen é o registo indiferenciado nas obras consultadas.
2 Cit. de Cândido de Figueiredo, Novo Dicionário de Língua Portuguesa (1922) + O que não se deve dizer (1953).