A pergunta parte do pressuposto (errado) de que as palavras acento (nome), perpétuo (adjetivo) e ato (nome) derivam de alguma forma direta dos verbos com que relacionam, respetivamente, acentuar, perpetuar e atuar. E parece também julgar-se que, aceitando acento como nome, então – prevendo a eventualidade de se contra-argumentar com um resultado ilegítimo –, também se deve aceitar "acento" como 1.ª pessoa do singular do presente do indicativo de um verbo com a forma de infinitivo "acentar", em lugar da que de facto é legítima, acentuar.
Nada disto, porém, funciona como supõe a pergunta, porque sucede que, na estruturação de uma família de palavras, não contam apenas a derivação ou a composição que é possível no português contemporâneo. Apesar de se observarem alternâncias vocálicas em pares como almoço (1.ª pessoa do presente do indicativo do verbo almoçar, com o aberto)/almoço (substantivo, com o fechado), não são elas de molde a concluir que a segunda forma deriva da primeira no contexto linguístico contemporâneo. De forma semelhante, não se pode afirmar que o adjetivo perpétuo deriva de perpetuo (1.ª pessoa do presente do indicativo do verbo perpetuar) ; e menos ainda é aceitável pensar que haverá uma «lógica da língua portuguesa» a legitimar as formas nominais "acêntuo" e "átuo", que, evidentemente, estão incorretas. É preciso ter em conta a história das palavras, considerando a diacronia quer das suas relações de derivação quer da sua integração no léxico do português.
Assim, consultando o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, o Diccionario Crítico Etimológico Castellano e Hispánico, de Joan Coromines e José Antonio Pascual e o Dicionário Houaiss (2001), apura-se o seguinte:
– Acento é adaptação do latim accentus, us «acentuação de uma palavra, tom, entoação; acento, o levantar ou abater a voz numa sílaba», que se relaciona com o verbo accĭno, is, accinui, accintum, accinĕre, e cujo radical é base de derivação de accentuare, «acentuar, pôr acento a falar ou a escrever»;
– Ato evoluiu do latim actus, -ūs derivado do particípio passado actus, a, um, forma flexional do verbo ago, is, egi, actum, agere «impelir, fazer andar à sua frente» (por oposição a duco "andar à frente de, guiar"); «perseguir, expulsar, fazer ir, agitar; atrair, engodar, convidar; fazer sair, lançar, obrigar a; fazer (de modo contínuo), ocupar-se de, tratar de; revolver na mente, meditar; passar (o tempo), viver; falar, tratar um assunto, advogar, defender em juízo, acusar, perseguir em juízo; proceder bem ou mal para com alguém; dirigir-se, avançar, ir».
– Perpétuo tem igualmente origem latina, no adjetivo perpĕtŭus, «contínuo, sem interrupção, que dura sempre», que substituiu uma forma mais antiga, perpes, etis, «que avança de maneira contínua, ininterrupto, encadeado, contínuo, perpétuo». De perpétuo é que derivará o verbo perpetuar, se é que este não é a adaptação do verbo latim perpĕtŭo, as, avi, atum, are «fazer sem interrupção, não interromper; fazer perpétuo, perpetuar», um derivado de perpĕtŭus.
Em suma, tanto os nomes acento e ato como o adjetivo perpétuo se relacionam com verbos, mas não por derivação direta, no contexto dos esquemas de derivação do português contemporâneo. Para analisar cabalmente estas palavras, a informação histórica tem especial importância.