1. Se consultar o programa de Português em vigor (Programa de Português 10.º, 11.º e 12.º anos – Cursos Científico-Humanísticos e Cursos Tecnológicos (2001/2002), encontra no domínio «Funcionamento da Língua», sob o tópico «Pragmática e Linguística Textual», o item «Tipologia textual/protótipos textuais».
1.1. O que se entende por «protótipos textuais»?
Esta classificação deriva das célebres propostas de classificação de sequências textuais prototípicas, do linguista francês Jean-Michel Adam (Les Textes: Types et prototypes, Paris, Nathan).
O que Adam diz, basicamente, é o seguinte: face à extrema diversidade da natureza dos discursos reais, efetivamente produzidos, na oralidade ou na escrita, é possível fazer o reconhecimento de um conjunto estável de características afetas a sequ|ências textuais (agregados de frases ou parágrafos). As sequ|ências textuais prototípicas (que no programa aparecem como «protótipos textuais) não são textos ou discursos reais ou empíricos, mas abstrações, ou seja, conjuntos de características no que toca aos diferentes modos de organização das frases em texto.
Consideram-se (apenas) seis sequências prototípicas (ou «protótipos textuais»):
– sequ|ência descritiva: designação/enumeração; localização; caracterização/qualificação.
– sequ|ência dialogal: fórmulas de abertura; fórmulas de fechamento, pares adjacentes (de concordância/discordância).
– sequência argumentativa: argumento; conclusão; pressuposto
– sequência instrucional:verbos 3.ª pessoa do conjuntivo (ou no infinitivo, ou no presente do indicativo com sujeito nulo).
– sequência explicativa-expositiva: predominância do indicativo; pressuposto: o interlocutor não sabe X).
Os discursos reais atualizam uma ou várias destas sequências. Assim, por exemplo, o discurso publicitário apresenta geralmente uma sequência descritiva (em que se apresenta o produto) e uma sequência argumentativa (em que se induz o receptor a aderir a um dado produto).
Vejamos a questão pela perspetiva inversa: a sequência argumentativa está presente no discurso político, no sermão, no artigo de opinião, no debate, etc., a par de outras sequências; a sequência dialogal está presente na entrevista de imprensa, na ata de uma reunião de trabalho, no diálogo das personagens de uma obra de ficção, etc., a par de outras sequências.
1.2. Voltando ao programa de português: nas secções «compreensão oral», «expressão oral», «expressão escrita», são visados géneros textuais.
O que se entende por géneros (e subgéneros) textuais? Trata-se, grosso modo, de "arrumações" de discursos reais, sob muitos e diversificados critérios/pontos de vista: estatuto dos interlocutores, circunstâncias de produção, suporte de transmissão, feição institucional, tema/estética, dimensão, etc.
Na Antiguidade eram considerados o género épico, lírico e dramático. A retórica grega considerava o género deliberativo, o judicial e o epidíctico. Na tradição literária é consensual considerar-se a poesia, o teatro, o romance e o ensaio. Mas, se olharmos para os subgé|neros, então temos a poesia lírica e a épica; na poesia lírica temos o soneto, a ode, a balada, o madrigal, etc; já o romance pode ser realista, naturalista, surrealista ou romance histórico, autobiográfico ou fantástico. Fora do âmbito da literatura, a diversidade não é menor: há o relatório, a conferência, a receita, o regulamento, o contrato, o relatório, a bula de medicamento, as instruções dos eletrodomésticos; há o texto jornalístico, que alberga a notícia, a reportagem, a entrevista, o editorial, o fait divers, etc.
2. Sobre o discurso/texto publicitário:
Categorias: comercial (promover vendas); institucional (sem fins lucrativos)
– Meios de difusão: papel, audiovisual, Internet, etc.
– Partes:(i) slogan (enunciado que incita diretamente o cumprimento da ação que se quer incutir); (ii) sequência explicativa e/ou argumentativa (momento em que se faz uma apresentação mais ou menos pormenorizada das vantagens de aquisição de um produto ou realização de uma acção).
– Requisitos para uma publicidade bem sucedida: simplicidade; repetição; vivacidade; contiguidade (associações de ideias); contágio (promover a imitação através do recurso ao testemunho de uma figura pública/celebridade).
3. Bibliografia (em português):
PINTO, Alexandra Guedes 1997 – Publicidade. um Discurso de Sedução, Porto Editora
MARTINS, Ana 2008 – Gramática Aplicada, Porto Editora (pp. 182 - 197).
COUTINHO, Maria Antónia 2007 – Descrever géneros de textos. Resistências e estratégias