A construção apresentada é uma frase copulativa que é composta por um constituinte com a função sintática de sujeito («A lua»), por um verbo copulativo («é») e por um predicativo do sujeito («como barca perdida»).
O constituinte com função de predicativo de sujeito tem a particularidade de ter o seu conteúdo semântico veiculado por uma oração comparativa que introduz na frase um valor semântico de semelhança. Esta função sintática comprova-se pelo facto de o mesmo espaço sintático poder ser preenchido por um grupo nominal (1) ou por um adjetivo (2):
(1) «A lua é um satélite.»
(2) «A lua é grande.»
Relativamente ao constituinte «como barca perdida», verificamos que estamos perante uma oração comparativa caracterizada pela elipse do verbo («como barca perdida é»)1. Trata-se, portanto, de um constituinte marginal na formação do predicativo do sujeito. Não obstante, é uma opção válida, como o é o preenchimento desta função por um sintagma preposicional, o que acontece em (3):
(3) «O João é do meu ano.»2
Quanto à função sintática desempenhada pelo constituinte «perdida», é importante recordar, antes de mais, que as funções sintáticas operam em planos distintos: ao nível da frase, ao nível do predicado e ao nível do sintagma. Isto significa que os constituintes se relacionam com um elemento nuclear gerando função em cada um dos níveis que funcionam e que, num nível superior, será o constituinte, como um todo, que se relacionará com outro elemento nuclear gerando igualmente função.
No caso particular da frase em apreço, existe função dentro do sintagma nominal «[como] barca perdida», uma vez que o nome barca funciona como elemento nuclear sobre o qual incide o adjetivo perdida, que assume a função de modificador do nome restritivo. Já no plano do predicado encontra-se o constituinte «como barca perdida», que, como um todo, se relaciona com o núcleo verbal (embora semanticamente incida / predique sobre o sujeito), desempenhando a função de predicativo do sujeito, como atrás se disse.
A representação dos níveis de funcionamento dos constituintes fica aqui representada por parenteses retos:
(4) «[A lua] [[é] [como [barca [perdida]]]].»
Disponha sempre!
1. Note-se que, em termos semânticos, se trata de uma comparação vaga, que convoca uma inferência para identificar o traço que se identifica entre «A lua» e a «barca perdida», que poderia, por exemplo, ser hesitante: «A lua é hesitante como barca perdida (é)».)
2. A este propósito, ver também esta resposta.