Como é uma conjunção subordinativa comparativa que introduz frases (ou orações) subordinadas adverbiais comparativas. O verbo da subordinada é, de facto, «é», embora não esteja expresso: «tu és como uma flor (é)». Note-se que as orações subordinadas comparativas têm a particularidade de poder assumir estruturas de elipse, isto é, de omitir elementos frásicos (cf. Maria Helena Mira Mateus et alii, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Editorial Caminho, págs. 736-738).
Acresce que a frase levanta questões interessantes quanto à função sintáctica da subordinada. Se a subordinante corresponde à frase (ou oração) «Tu és...», e se o verbo ser é um verbo copulativo que liga o sujeito («tu») a um predicativo (por exemplo, em «tu és alta», «alta» é o predicativo do sujeito), então, na frase em análise, a sequência «como uma flor» é o predicativo do sujeito.
Esta análise coloca alguns problemas, porque os verbos copulativos seleccionam como predicativo do sujeito uma expressão (tecnicamente uma oração pequena) cujo núcleo pode ser adjectival, nominal, preposicional ou adverbial (cf. Mateus et al., op.cit., 302/303). Ora, tipicamente, uma subordinada adverbial não é argumento do verbo principal, mas um verbo copulativo tem propriedades que o afastam dos verbos que costumam ser predicados principais: ser, por exemplo, comporta-se mais como elemento de ligação do que como um verbo com um significado lexical pleno.
Uma análise alternativa seria considerar como como uma preposição, mas o que atrás expus mostra que esta palavra introduz um constituinte que tem estatuto oracional. Mesmo assim, esta objecção pode ser atenuada quando pensamos que são as preposições que introduzem as frases não finitas de infinitivo. Com efeito, vemos que uma oração finita, por exemplo uma subordinada adverbial causal como «o pai zangou-se porque chegámos tarde», é equivalente a uma oração não finita introduzida pela preposição por: «o pai zangou-se por termos chegado tarde.»
Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, pág. 431) apresenta vários exemplos em que o predicativo é uma «oração abreviada sem verbo explícito», identificando-os com predicativos introduzidos por como, quando e porque. Assim, a expressão «quando presidente...» é equivalente a «quando era presidente».
Em conclusão, uma oração subordinada comparativa pode constituir um predicativo do sujeito.