Na frase apresentada — «a própria ciência, mais e melhor do que ninguém, poderá prever, evitar e diminuir os riscos» — é expressa a ideia de possibilidade (em que se pode inferir, também, o valor de certeza devido à expressão apreciativa «mais e melhor do que ninguém»), razão pela qual sobressai a modalidade epistémica [a da «possibilidade epistémica para poder», de que nos fala Fátima Oliveira na Gramática da Língua Portuguesa Lisboa, Caminho, 2003, p. 248), de Maria Mateus et al.].
A dúvida da consulente deve-se, decerto, à interpretação do sentido da forma verbal poderá, uma vez que o verbo poder é um dos verbos modais (com valor deôntico, mas somente quando usado no sentido de permissão ou de obrigação, a par dos verbos dever e ter de).
Ora, na frase em análise, não se trata de um caso de uso do verbo poder com o valor de permissão (como, por exemplo, nas frases: «Tu podes sair.» «O Rui pode sair.»).
Nota — Segundo o Dicionário Terminológico [em Linguística Descritiva (B), Semântica (B.6), Valor Modal (B.6.4.)], modalidade é definida como «categoria gramatical que exprime a atitude do locutor face a um enunciado ou aos participantes do discurso. A modalidade permite expressar apreciações sobre o conteúdo de um enunciado (i) ou representar valores de probabilidade ou certeza (modalidade epistémica) (ii), ou de permissão ou obrigação (valor deôntico) (iii). A modalidade pode ser expressa de muitas formas diferentes: através da entoação, da variação no modo verbal, através de advérbios, de verbos modais (auxiliares como dever, poder… ou principais com valor modal como crer, pensar, obrigar…), etc.». Exemplos:
(i) a. «Felizmente, está a chover.»
b. «Lamento que tenhas reprovado.»
c. «Francamente, esta situação não é clara.»
(ii) a. «Talvez esteja a chover.»
b. «A Maria, certamente, não sabe do que está a falar.»
c. «Duvido que chova.»
(iii) a. «Tens de trabalhar mais!»
b. «Podes sair esta noite.»
c. «Não entres!»