A locução conjuntiva temporal tanto que é sinónima de «logo que» (cf. José Pedro Machado, Grande Dicionário da Língua Portuguesa; ver também Énio Ramalho, Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintático da Língua Portuguesa). Mas é também usada como conector frásico de valor consecutivo, equivalente a «tanto assim que» (cf. Dicionário Houaiss) como no seguinte exemplo «não sabia de nada, tanto que nem veio trabalhar» (idem)*.
Nos tempos em que os galicismos eram objeto de forte censura, havia quem tivesse tanto que por imitação do francês tant que («tanto quanto», «enquanto»), apesar de a locução portuguesa ter significado distinto. Vasco Botelho de Amaral (Grande Dicionário das Dificuldades e Subtilezas do Idioma Português, 1958) contestava tal juízo (mantém-se a ortografia do original):
«Tanto que, modo de dizer vernáculo. É antigo na língua. Podemos citar, por exemplo: "Tanto que Judas recebeu o bocado do pão" (Sermões, VI, 67, P.e António Vieira); "arrebatou sùbitamente para o Céu esse filho varão, tanto que nasceu" (Ibid., XV, 40); "Tanto que desperto pela manhã renovarei o tal propósito". Cf. Luz e Calor, 16, 5.ª ed., P.e Bernardes. Não temos, pois, que recear, por causa do tant que francês, aliás sinónimo do nosso enquanto. [...]»
* Ao encontro deste sentido, Machado (obra citada) parafraseia «tanto que» como «a prova, o testemunho de que é assim», o que deixa entender que a locução introduz uma frase com função argumentativa.