No quadro do Dicionário Terminológico (DT), a oração consecutiva modifica tipicamente um grupo nominal – «comeu tantos bolos, que apanhou uma indigestão» –, um grupo adjetival – «está tão quente, que até arde» –, um grupo adverbial – «correu tanto, que arrebentou» – ou um grupo preposicional – «cantou de tal maneira, que levou pateada». Pode ainda modificar um grupo verbal: «Fala, que se desunha.»
Todas estas possibilidades sugerem que, do ponto de vista sintático, as orações consecutivas são modificadores de diferentes grupos sintáticos. Contudo, evidenciam igualmente um comportamento que distinguem as consecutivas das outras orações adverbiais, como se explica a seguir:
– A investigação linguística tem estabelecido um conjunto de critérios gerais para identificar a subordinação adverbial, mas as orações consecutivas não obedecem a todos esses critérios, como o próprio DT refere:
«As subordinadas consecutivas diferem claramente dos outros tipos de subordinadas adverbiais, já que:
(i) muitas vezes, modificam especificamente um elemento da subordinante e não toda a subordinante;
(ii) não têm geralmente muita mobilidade na frase:
(vi) Ele é tão grande [que bate com a cabeça nas portas].
(vii) *[Que bate com a cabeça nas portas], ele é tão grande.»
– A consecutiva exprime a consequência de uma intensificação que está marcada por complementos ou modificadores do grupo verbal da frase matriz (no DT, trata-se de uma «oração subordinante»). Esta perspetiva é confirmada pelo que se diz na Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Editorial Caminho, 2003: 756/757), de M.ª Helena Mira Mateus et al. (SAdj = sintagma adjetival; AAdv = sintagma adverbial; SN = sintgma nominal; SV = sintagma verbal):
«(iii) As orações consecutivas não são adjuntos nem a SV nem à oração matriz, como as subordinadas adverbiais [...].
(iv) As orações consecutivas são caracterizadas pela relação com os sintagmas de que dependem; por isso, integram-se no SN, no SAdj, no SAdv ou no SV da oração matriz.»
No caso em que a consecutiva modifica um SV, Mateus et al. (ibidem) consideram que fica implícita uma expressão de intensidade/quantidade (exemplos retirados da fonte consultada):
«34 (a) Gritavam que era um horror.
(b) Gritavam (tanto) que era um horror. [...].»
Mas as autoras dão também um exemplo em que um sintagma nominal abrange uma expressão de intensidade, podendo ter, porém, um modificador de leitura ambígua (relativa e consecutiva):
«(33) (a) Tenho uma casa que abriga muita gente.
(b) Tenho uma casa tal que abriga muita gente.»
Poderemos, pois, dizer que a relação da oração consecutiva se não faz sempre com a frase matriz nem com o verbo, estabelecendo essa ligação com outros elementos da frase.
Para aprofundar este tema, leiam-se os seguintes artigos:
Maria Lobo. Orações adverbiais com conectores vs. orações adverbiais sem conectores: distribuição e propriedades sintácticas (acesso em 1/9/2015)
Maria Lobo, Aspectos da Sintaxe das Orações Subordinadas Adverbiais do Português (consultado 1/9/2015)