A forma contraída donde (preposição de e advérbio onde) é usada
(i) sobretudo com valor locativo, como em
(1) «A casa donde veio ficava distante.»
(ii) frequentemente como interrogativo:
(2) «Donde vieste?»
(iii) com um valor equivalente a “daí”:
(3) «Tem tido muitos problemas, donde as reações que se lhe conhecem.»
Note-se, porém, que uma análise às ocorrências desta forma no Corpus do Português de Mark Davies mostra que os usos de donde com um valor equivalente ao referido em (iii) é pouco frequente.
Este último uso gera principalmente orações resultativas (ou consequenciais), nas quais a causa é dada na oração principal e o resultado na oração subordinada.
Este conector pode ligar duas orações (4) ou uma oração a um sintagma nominal (5):
(4) «Ele não falava com ninguém, donde muitos não saberem sequer o seu nome.»
(5) «Ele era muito bem-disposto, donde a sua popularidade.»
No que respeita à pontuação, visto que estamos perante uma situação de orações periféricas, ou seja, que mantêm um grau de integração mais fraca na frase é aconselhado o uso da vírgula em início de oração: «As orações subordinadas periféricas distinguem-se das orações integradas por se destacarem do resto da frase através de uma pausa ou quebra entoacional, assinalada tipicamente na escrita por meio de uma vírgula» (Mendes in Raposo et al., Gramática do Português. Fundação Calouste Gulbenkian, p. 1717). No entanto, nos casos em que as orações envolvem maior complexidade e/ou extensão, poder-se-á usar o ponto e vírgula a separar a oração subordinada introduzida por donde da oração subordinante. Uma vez que donde funciona como um conector, poderá também surgir em início de frase, estabelecendo a conexão entre duas frases. Neste caso, será seguido de vírgula.
Refira-se também que nas orações introduzidas por onde, este funciona como um atractor, pelo que o pronome deverá ser colocado antes do verbo.
Relativamente aos tempos verbais, não encontramos uma descrição gramatical que identifique os contextos de uso do modo indicativo, infinitivo ou conjuntivo. Não obstante, é sabido que «em muitos casos não parece existir uma oposição de significado entre as construções com infinitivo e as suas correspondentes com indicativo ou conjuntivo» (Marques in ibidem, p. 689). Julgamos, porém, que a aceitabilidade de um ou outro modo nestas construções depende da sensibilidade dos falantes. Assinalamos com interrogação (?) os casos mais duvidosos:
(6) «Temos que 18÷6=3 e 24÷6=4, donde os números 3 e 4 são (?)/serem primos entre si.»
(7) «Os ângulos A e B não têm apenas um lado em comum, pois o ângulo A está contido no ângulo B, donde não são (?)/serem adjacentes.»
(8) «São pequenas as chances de se ver um elefante, donde se trata/ se tratar de um acontecimento improvável.»
(9) «Os fenómenos aleatórios caraterizam-se pela incerteza que envolvem, donde não é/ser possível determinar antecipadamente os resultados das experiências individuais.»
(10) «Quando giramos a roleta, o ponteiro pode parar em cada um dos seus números, mas não sabemos antecipadamente qual desses números assinalará, donde se trata/ se tratar de uma experiência aleatória.
(11) «A classificação dos acontecimentos (…) é um tanto subjetiva na medida em que depende da avaliação de cada pessoa, donde esta categorização dos acontecimentos deve / dever ser vista como uma aproximação
(12) «Os fenómenos deterministas ou causais caraterizam-se pelo facto de os efeitos serem consequências de causas, donde, conhecidas as causas, se conhecem/se conhecerem também os efeitos.»
Não analisamos a frase apresentada pela consulente em 6, porque não é apresentada uma oração subordinante.
Disponha sempre!