DÚVIDAS

O significado de homem-lige, «à fia resga», «ronho do matagal», etc.

Lendo a célebre obra de Aquilino Ribeiro Quando os Lobos Uivam (Bertrand, 3.ª edição), deparei-me com alguns termos e expressões que gostaria de esclarecer, visto que não o consegui através de dicionários.

Venho por isso pedir ajuda ao Ciberdúvidas, a qual desde já muito agradeço.

Qual o significado de:

«fazer o bem de alma» (pág. 23); «deitar vozes a gaiteiro» (pág. 56); «homem-lige» (pág. 57); «à fia resga» (pág. 103); «ronho do matagal» (pág. 249)?

Gostava também de saber se existe algum glossário dos termos e expressões de carácter regional, empregados pelo grande escritor nas suas admiráveis obras.

Resposta

Aquilino Ribeiro é um autor muito complexo, e há apenas algumas referências quanto à sua linguagem. Destacamos as seguintes:

Sousa, Maria da Graça Frazão Castelo Branco, Linguagem regionalista e linguagem popular em Aquilino Ribeiro: o caso de Aldeia, Covilhã: 2005. Tese de mestrado em Língua, Cultura Portuguesa e Didáctica apresentada à Universidade da Beira Interior.

Almeida, Manuel Henrique Maximino de, Aquilino Ribeiro entre jornalismo e literatura: conformação e canonização da escrita Aquiliniana (1903-1933). Viseu: [s. n.], 2001. Tese de doutoramento em Literatura Portuguesa, Univ. Católica Portuguesa.

De fa{#c|}to, não são muitas as fontes ou glossários para Aquilino Ribeiro, contudo, ele bebia em Camilo, e este, por seu turno, nos velhos gramáticos e léxicos da língua. Talvez valha a pena consultar também o Dicionário de Camilo Castelo Branco (1989), de Alexandre Cabral.

Tendo em conta que muitos dos vocábulos e das expressões em Aquilino são regionalismos ou provincianismos, termos populares (plebeísmos), termos antigos, em desuso, termos familiares, gíria, calão, estrangeirismos e mesmo neologismos, torna-se difícil a sua identificação. Se o que se pretende é estudar aprofundadamente a linguagem de Aquilino, sugerimos que se consultem dicionários do tipo dos acima mencionados.

Estas são, basicamente, as “fontes” aquilinianas.

Quanto às expressões remetidas, segue-se a respectiva definição:

«Homem-lige, s. m. (ant.) o que devia certa prestação de serviço ao senhor, que era ligio; (fig.): Era o Chico Barbudo, homem-lige da reação, que acampava ali todas as noites com a sua gente. ( Aq. Ribeiro, Mônica, p. 248, 4. ª ed.) Cf. lígio. lígio 2 adj. (ant.) dizia-se do indivíduo que estava ligado ao seu príncipe ou soberano para o servir na paz e na guerra. Cf. homem-lige. F. cp. fr. Lige.»  (Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete)

« Deitar vozes a gaiteiro» é o equivalente a dizer «bater com a língua nos dentes». Quem «deita vozes a gaiteiro» é coscuvilheiro, ou seja, alguém que promove a intriga e lança boatos sobre a vida dos outros.


«À fia resga» é o mesmo que «por um triz», «por um fio», «por pouco», «à rasquinha», etc.

Fazer o bem de alma remete para a tradição de rezar missas a um defunto para o bem de sua alma, ou seja, para que lhe sejam perdoados os pecados, para que encontre o caminho rumo aos céus, e que descanse em paz. Junto dos mais religiosos, ainda hoje se ouve a expressão «rezar pela alma de alguém», ora essa tradição vem de há muito, e «fazer o bem de alma» era impreterivelmente necessário para a salvação da alma de um defunto.

Não encontrámos referência a «ronho do matagal».

Esperamos ter ajudado.

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa