A expressão «Outra venha que rabo tenha» surge numa passagem do primeiro capítulo da novela O Malhadinhas, de Aquilino Ribeiro, que não resisto a transcrever.
O protagonista, António, o Malhadinhas, pretende casar com a prima (como era costume na época), que também lhe quer bem, mas começa a desconfiar de que ela se interesse pelo abade de Britiande, «homem novo, muito bem afigurado, pregador de fama e grande batedor de montanhas, provido numa das freguesias mais rendosas da diocese», «que a vira na festa do Mártir e ficara a morrer por ela», passando a fazer montarias naquela zona e a hospedar-se em casa do pai da rapariga «com muito alarde e folgança».
Trava-se, então, o seguinte diálogo entre os dois:
«— Que mal te fez o senhor abade, primo? Então já não é senhor de estar onde lhe apeteça?
— É; mas eu também sou senhor de lhe fazer a barba à coroa, cá a meu modo, para lhe lembrar que é casado com a Igreja.
— Credo!
— Credo, digo eu. O padre é o vosso santantoninho por quem sois. Cuidas que sou cego? Mais do que uma vez te apanhei a espenujares-te diante dele, que nem parecias donzela de assento.
— Anjo custódio! Outra venha que rabo tenha... Rio-me para ele; que mal tem?
— Tem muito. Alguém acredita que o coroado vem para aqui caçar por caçar? Lebres e perdizes tem-nas a dois passos, a dar com um pau, na serra de Tarouca.
Ela fitou-me muito séria no fundo das meninas a escrutinar, e tornou:
— Vem então pelos meus bonitos olhos?»
Com este contexto, compreende-se que a frase significa «Que disparate!», «Isso que estás a dizer não tem ponta por onde se lhe pegue!», «Diz outra coisa que tenha mais consistência, que seja mais lógica!», «Venha outra frase de mais bom senso, que tenha ponta por onde se lhe pegue». Esta «ponta por onde se lhe pegue» surge na expressão como o «rabo».