Da pesquisa que realizámos, apercebemo-nos de que duas formas desse verbo ocorrem nas lengalengas e nos provérbios portugueses relativos aos meses e, mais especificamente, a agosto: engravelar e engavelar. Aliás, o Livro dos Provérbios Portugueses (Lisboa, Ed. Presença, 2004), de José Ricardo Marques Costa, regista as duas formas, como se pode verificar através dos exemplos retirados da lista de provérbios sobre o tempo atmosférico:
«Janeiro, gear. Fevereiro, chover. Março, encanar. Abril, espigar. Maio, engrandecer. Junho, ceifar. Julho, debulhar. Agosto, engavelar. Setembro, vindimar. Outubro, revolver. Novembro, semear. Dezembro, nascer.»
«Janeiro, gear. Fevereiro, chover. Março, encanar. Abril, espigar. Maio, engrandecer. Junho, ceifar. Julho, debulhar. Agosto, engavelar. Setembro, vindimar. Outubro, revolver. Novembro, semear. Dezembro, nasceu Deus para nos salvar.»
«Julho, debulhar. Agosto, engravelar.»
«Outubro, revolver. Novembro, semear. Dezembro, nasceu Deus para nos salvar. Janeiro, gear. Fevereiro, chover. Março, encanar. Abril, espigar. Maio, engrandecer. Junho, ceifar. Julho, debulhar. Agosto, engravelar. Setembro vindimar.»
No entanto, os dicionários1 e os vocabulários ortográficos2 contemplam unicamente o termo engavelar (en + gavela + -ar), verbo que significa «enfeixar; atar/dispor (o trigo) em gavelas; antes de ser debulhado ou depois da ceifa», correspondendo o termo gavela a «feixe de espigas cortadas; braçada; punhado». Ora, se tivermos em conta o processo das atividades agrícolas relacionadas com os meses que deu origem ao provérbio e às lengalengas, verificamos que o trabalho de enfeixar (o trigo ou outro cereal) ocorre após a ceifa (junho) e a debulhada (ou o debulho).
Relativamente à forma engravelar (não registada nos dicionários), pensamos que deve ter surgido, talvez, por analogia com graveto (pedaço de lenha miúda ou de fragmento de ramos de árvore, com que se fazem feixes) e/ou esgravatar, palavras que pertencem a campos semânticos próximos.
1 Diccionario Prosodico de Portugal e Brazil (1895); Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa, de Caldas Aulete (1958); Grande Dicionário Etimológico e Prosódico da Língua Portuguesa, de Silveira Bueno (1965); Grande Dicionário da Língua Portuguesa, da Porto Editora (2010).
2 Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa, 1940; Vocabulário da Língua Portuguesa, de F. Rebelo Gonçalves, 1966; o atual Vocabulário Ortográfico do Português.