O facto de uma palavra terminar ou iniciar-se em vogal graficamente acentuada (só, água) não impede que, na divisão métrica, se faça a contracção dessa vogal com outra que a siga ou preceda noutra palavra («só aquele»; «e água»), contando-se uma única sílaba métrica. Trata-se de um dos casos de «licenças poéticas de compressão», mais propriamente de um fenómeno de crase, em que «contrai, numa só sílaba, dois sons vocálicos de palavras diferentes» (Amorim de Carvalho, Tratado de Versificação Portuguesa, Porto, 1941, p. 45), como se pode verificar através dos exemplos retirados da obra citada:
Já a / ro/xa / ma/nhã / cla(ra);
E/ra / de/ter / a/li os/ des/co/bri/do(res);
De / Deus / gui/a/do / só e / de / san/ta es/tre(la);
Camões
A ár/vo/re es/tá em/pé,/ no / meio / das / pla/nu(ras)
Gomes Leal