Embora possa atribuir-se a muitas formas com oi certo caráter popular, deve assinalar-se que este ditongo chega a tomar o lugar de ou na norma culta. Por exemplo, as formas dous e cousa passaram a dois e coisa, respetivamente, tanto nos usos correntes como nos registos formais e na expressão literária do português em geral.
O ditongo oi terá surgido como uma inovação popular, alternando com ou, muitas vezes pronunciado como vogal simples – "ô", configurando um fenómeno de monotongação –, em casos como ouro/oiro, touro/toiro e ouço/oiço. Há meio século, num estudo dedicado aos ditongos ou e oi, observava o filólogo e linguista Lindley Cintra o seguinte1:
«A grande expansão da variante [ọi̯] parece-me característica dos falares populares regionais de uma zona de fronteira entre a região em que se produz a monotongação e aquela em que se conserva o ditongo (nas suas variantes [ọu̯] ou [ạu̯]). Se dos falares regionais passássemos para a língua comum e para a literária [...] encontraríamos uma convivência, à primeira vista extremamente confusa e por isso mesmo ainda mal descrita pelas gramáticas, de formas com ou e formas com oi, importadas certamente de falares de características diversas. O emprego de umas ou de outras está longe de ser em muitos casos indiferente, como em algum sítio se lê ("este ditongo alterna indiferentemente com ou mormente -r- e -te-", Gonçalves Viana, Exposição da Pronúncia Normal, 1892, p. XXXVIII), ou de se poder definir com fórmulas simples do tipo: "ou is more literary, oi more colloquial" (E.B. Williams, From Latin to Portuguese, § 92 c, p. 86) . É urgente um estudo da sua distribuição por camadas sociais e estilísticas que ainda está por fazer.»2
Um estudo mais recente, de 2013, também focado na alternância ou~oi em Portugal continental3, dá conta de ainda não haver certezas quanto ao contraste sociolinguístico e estilístico entre as formas que apresentam tal variação – ouro/oiro, touro/toiro, ouço/oiço.e outras.
1 L. F. Lindley Cintra, "Os ditongos decrescentes ou e ei: esquema de um estudo sincrónico e diacrónico" in Estudos de Dialectologia Portuguesa, Lisboa, Edições Sá da Costa, 1983, p. 45.
2 Tradução da frase em inglês: «ou é mais literário, oi mais coloquial».
3 Ana Paula Veloso Pratas Dias, A Variação ou ~ oi em Portugal Continental, Faculdade de Letras de Lisboa, 2013, p. 187.