Quando ambas as palavras são classificadas como adjetivos, o contraste semântico entre elas é nulo, se atendermos à sua definição em dicionário. A existir diferença, ela está em histórico se usar adjetivalmente muito mais do historial. Basta referir, por exemplo, que, no Corpus do Português não se regista nenhuma ocorrência de historial como adjetivo.
Quanto ao uso de histórico e historial como substantivos, é também mínima a diferença. Mesmo assim, dir-se-ia que a histórico se associa uma intenção de objetividade – designa-se sobretudo a cronologia de um conjunto de acontecimentos –, enquanto a historial se dá uma dimensão narrativa mais vincada, como que romanceada, conotando a palavra com uma visão mais subjetiva ou menos formal dos factos. Esta é uma conclusão que se recolhe da consulta de alguns dicionários e de coleções de textos eletrónicos (corpora):
– O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa define histórico, enquanto substantivo, em três aceções: «historiador», «parte histórica» e «relato cronológico dos factos»; é nesta última aceção que se indica a sinonímia deste vocábulo com historial.
– O dicionário da Porto Editora (na Infopédia) regista histórico apenas como adjetivo, enquanto historial, que consigna como adjetivo e como substantivo, está, no último caso, definido como «conjunto de factos cronológicos» e, no registo coloquial, como «narrativa longa ou enumeração detalhada dos factos». Este uso coloquial é confirmado pelo dicionário da Academia das Ciências, que regista, no artigo respeitante a historial, a expressão «fazer o historial», classificada como modo de dizer de tom familiar e definida como «narrativa, relativamente longa de alguma coisa, ou enumeração exaustiva». Observe-se que, no Corpus do Português, o uso nominal de historial só se verifica em textos de Portugal.
– No Dicionário Houaiss, na sua 1.ª edição brasileira, parece estabelecer-se uma distinção mais clara: como substantivo, historial tem a aceção de «obra histórica»; ao substantivo histórico (já falámos do adjetivo) atribuem-se duas aceções: «descrição cronológica dos factos» e, na área da contabilidade, «registo resumido da origem, natureza e demais circunstâncias esclarecedoras de operações contabilizadas». Contudo, como já se viu, consultando o Corpus do Português, historial não ocorre nos textos do Brasil, e uma pesquisa feita nas páginas da Folha de S. Paulo revela que, das sete ocorrências de historial encontradas, quatro provêm das crónicas do professor universitário português João Pereira Coutinho; no entanto, no mesmo jornal, é frequente surgir a sequência «o histórico», o que sugere que, no Brasil, se deteta a preferência por histórico, se é que este não é mesmo o item lexical disponível, sem coexistir com historial (a relação com outros itens lexicais é com certeza outro ponto a explorar, mas, para esta resposta, a pesquisa concentrou-se somente no par em questão).
– Assinale-se, ainda, que o substantivo histórico se emprega, pelo menos, em Portugal, com o significado de «aquele que é membro de um partido, agremiação..., desde a sua formação, há mais tempo o que os restantes membros» (dicionário da Academia das Ciências de Lisboa).