Responder a essas perguntas implica, necessariamente, recorrermos à etimologia de idêntico. Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, idêntico deriva do latim medieval ‘identicu-’, que, por sua vez, é derivado de ‘idem’. Ora, ‘idem’, o latinismo que tanto usamos, significa «o mesmo; também, ao mesmo tempo, simultaneamente».
A partir deste princípio, de que idêntico deriva de ‘idem’, poderemos concluir que idêntico corresponde também a o mesmo que, dito por outras palavras, significa igual a. E, de facto, tal significado surge como uma das hipóteses dadas para o adjectivo idêntico por vários dicionários. Por exemplo, tanto o Novo Dicionário da Língua Portuguesa da Lello (1996) como o Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1996) apresentam como primeiro significado de idêntico – «que é o mesmo que outro»; e, como «perfeitamente igual» e «que é igual a outro», surgem em terceiro lugar na lista de significados, respectivamente, no Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1996) e Grande Dicionário da Língua Portuguesa de António Morais e Silva (2002), ao que se pode acrescentar a expressão «que em nada difere de si próprio» formulada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2003).
De qualquer modo, penso que não podemos deixar de assinalar que esse é um dos significados previstos para esse adje(c)tivo. E é importante evidenciar também que tal sentido (igual a) não surge em todos os dicionários. Se tivermos em conta o significado mais registado em cinco dicionários (Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências (2001), Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2003), Grande Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo (1996), Novo Dicionário da Língua Portuguesa da Lello (1996) e Grande Dicionário da Língua Portuguesa de António Morais e Silva (2002), verificamos que é o adjectivo «análogo», ao que se associa «muito parecido», «semelhante», assim como «que apresenta as mesmas características», «que se assemelha, se parece muito com alguém ou alguma coisa», «da mesma natureza que outro» ou «que está compreendido sob a mesma ideia».
Perante toda esta lista de significados, é evidente que não podemos ter a ousadia de afirmar e/ou pensar que idêntico só tem um significado. Parece-me, até, que a tendência é a de que se aproxima cada vez mais de análogo, semelhante, parecido. Mas não devemos, do mesmo modo, abstrair-nos das suas raízes, da sua etimologia. E o ‘idem’ não gera dúvidas. Resta-nos, por isso, valorizar a polissemia da palavra e acompanhar as suas evoluções…