O significado que Pero Vaz de Caminha (1450-1500) dá a solapa não é claro, mas parece tratar-se de um uso especial da palavra, aplicado a uma parte do corte de cabelo dos nativos que o autor descreve.
O historiador Jaime Cortesão, na sua edição do texto de Caminha, a Carta do Achamento do Brasil, sustenta o seguinte1:
«[...] A solapa tem que ser qualquer coisa alheia ao crânio, propriamente dito, mas ligada a ele; e outra não pode ser que uma parte da cabeleira natural. (...) supomos que a solapa era a parte do cabelo que caía sobre a testa e sobre a parte restante do crânio rapada, que lhe ficava por debaixo. Esta maneira de cortar o cabelo era usada no século XV, tanto por seculares como religiosos. [...] Em resumo: o mancebo tupiniquim descrito por Caminha, tinha o cabelo rapado por cima das orelhas, e, recobrindo a parte depilada, curtas madeixas, sob cuja parte inferior, trazia colada, de fonte a fonte e caída para trás, uma cabeleira de penas, que lhe tapava as orelhas e o crânio.»
Por outras palavras, solapa, que geralmente significa «aba de casaco, capa», significava algo um pouco diferente na Carta, ainda que mantendo a noção de «capa»: «madeixa que cai sobre uma parte rapada do crânio, escondendo-a».
1 Citações recolhidas numa página intitulada Notas, na plataforma Angelfire.